quarta-feira, março 03, 2004

quando ela tinha nove anos

sempre que lhe falo de música portuguesa ou música brasileira, faz uma ar de indiferença. não comenta. não gosto, diz. há uns tempos atrás prometi-lhe gravar um cd com as minhas músicas brasileiras predilectas. cobrou-me a promessa, infinitamente adiada umas quantas vezes... agora que tenho gravador de cds, tenho de começar a fazer a selecção. vai demorar. tenho de a deixar deliciada com a música brasileira.

ate porque eu fazia um ar enjoado e enfadado sempre que a ouvia falar da stevie nicks. que horror, não gosto nada dessa tipa, dizia-lhe eu, principalmente daquela úsica, o i can't wait, que sempre teve o condão de me irritar, desde miudinha. hoje gosto de stevie nicks. dei por mim aos 21 anos sentada num bar em nova york a tentar ver e ouvir a espantosa reunião dos fleetwood mac no the dance, depois do empregado ter exigido ver os nossos passaportes antes de nos servir uma simples cerveja. hoje gosto muito de stevie e muitas vezes ouço as suas músicas preferidas, que ela me gravou em cd logo que pode.

por isso o meu espanto quando, na sexta passada, no meio de uma acesa discussão ao som do álbum roberto carlos, quando se indignava com o facto de eu e clara gostarmos das baleias, apoiando as frases de escárnio da rita, soltou um berrinho, parou e emocionou-se exclamando eu adoro esta música!!!! com um copo de vinho na mão e sorriso pateta de felicidade cantava baixinho a letra daquela música até há poucos minutos tão brega do roberto carlos. cantava concentrada, deslumbrada por ainda se recordar da letra toda, a letra da cama e mesa do roberto carlos. cantava concentrada enquanto o resto da casa a olhava maravilhada (eu) ou rebolava a rir no meio do chão (rita).

vera, a terceira estarola, descobria que afinal a música não é só anglo-saxónica e moderna e que, algures no brasil, um velho ídolo católico ferveroso a fazia regressar aos seus nove anos, no tempo em que ouvia os singles dos pais vezes e vezes sem conta.


Cama e mesa

Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom
Me esfregar na sua boca, ser o seu batom
O sabonete que te alisa embaixo do chuveiro
A toalha que desliza no seu corpo inteiro
Eu quero ser seu travesseiro e ter a noite inteira
Pra te beijar durante o tempo que você dormir
Eu quero ser o sol que entra no seu quarto adentro
Te acordar devagarinho, te fazer sorrir

Quero estar na maciez do toque dos seus dedos
E entrar na intimidade desses seus segredos
Quero ser a coisa boa, liberada ou proibida
Tudo em sua vida

Eu quero que você me dá o que você quiser
Quero te dar tudo que um homem dá pra uma mulher
E além de todo esse carinho que você me faz
Fico imaginando coisas, quero sempre mais

Você é o doce que eu mais gosto
Meu café completo, a bebida preferida e o prato predileto
Eu como e bebo do melhor e não tenho hora certa
De manhã, de tarde, à noite, não faço dieta

Esse amor que alimenta minha fantasia
É meu sonho, minha festa, é minha alegria
A comida mais gostosa, o perfume e a bebida
Tudo em minha vida

Todo homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe

Mas o homem que sabe o que quer
E se apaixona por uma mulher
Ele faz desse amor sua vida
A comida, a bebida, na justa medida

O homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe

Mas o homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe

Mas o homem que sabe o que quer
E se apaixona por uma mulher
Ele faz desse amor sua vida
A comida, a bebida, na justa medida?


Roberto Carlos - Erasmo Carlos
(1981)