sempre que lhe falo de música portuguesa ou música brasileira, faz uma ar de indiferença. não comenta. não gosto, diz. há uns tempos atrás prometi-lhe gravar um cd com as minhas músicas brasileiras predilectas. cobrou-me a promessa, infinitamente adiada umas quantas vezes... agora que tenho gravador de cds, tenho de começar a fazer a selecção. vai demorar. tenho de a deixar deliciada com a música brasileira.
ate porque eu fazia um ar enjoado e enfadado sempre que a ouvia falar da stevie nicks. que horror, não gosto nada dessa tipa, dizia-lhe eu, principalmente daquela úsica, o i can't wait, que sempre teve o condão de me irritar, desde miudinha. hoje gosto de stevie nicks. dei por mim aos 21 anos sentada num bar em nova york a tentar ver e ouvir a espantosa reunião dos fleetwood mac no the dance, depois do empregado ter exigido ver os nossos passaportes antes de nos servir uma simples cerveja. hoje gosto muito de stevie e muitas vezes ouço as suas músicas preferidas, que ela me gravou em cd logo que pode.
por isso o meu espanto quando, na sexta passada, no meio de uma acesa discussão ao som do álbum roberto carlos, quando se indignava com o facto de eu e clara gostarmos das baleias, apoiando as frases de escárnio da rita, soltou um berrinho, parou e emocionou-se exclamando eu adoro esta música!!!! com um copo de vinho na mão e sorriso pateta de felicidade cantava baixinho a letra daquela música até há poucos minutos tão brega do roberto carlos. cantava concentrada, deslumbrada por ainda se recordar da letra toda, a letra da cama e mesa do roberto carlos. cantava concentrada enquanto o resto da casa a olhava maravilhada (eu) ou rebolava a rir no meio do chão (rita).
vera, a terceira estarola, descobria que afinal a música não é só anglo-saxónica e moderna e que, algures no brasil, um velho ídolo católico ferveroso a fazia regressar aos seus nove anos, no tempo em que ouvia os singles dos pais vezes e vezes sem conta.
Cama e mesa
Eu quero ser sua canção, eu quero ser seu tom
Me esfregar na sua boca, ser o seu batom
O sabonete que te alisa embaixo do chuveiro
A toalha que desliza no seu corpo inteiro
Eu quero ser seu travesseiro e ter a noite inteira
Pra te beijar durante o tempo que você dormir
Eu quero ser o sol que entra no seu quarto adentro
Te acordar devagarinho, te fazer sorrir
Quero estar na maciez do toque dos seus dedos
E entrar na intimidade desses seus segredos
Quero ser a coisa boa, liberada ou proibida
Tudo em sua vida
Eu quero que você me dá o que você quiser
Quero te dar tudo que um homem dá pra uma mulher
E além de todo esse carinho que você me faz
Fico imaginando coisas, quero sempre mais
Você é o doce que eu mais gosto
Meu café completo, a bebida preferida e o prato predileto
Eu como e bebo do melhor e não tenho hora certa
De manhã, de tarde, à noite, não faço dieta
Esse amor que alimenta minha fantasia
É meu sonho, minha festa, é minha alegria
A comida mais gostosa, o perfume e a bebida
Tudo em minha vida
Todo homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe
Mas o homem que sabe o que quer
E se apaixona por uma mulher
Ele faz desse amor sua vida
A comida, a bebida, na justa medida
O homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe
Mas o homem que sabe o que quer
Sabe dar e querer da mulher
O melhor e fazer desse amor
O que come, o que bebe, o que dá e recebe
Mas o homem que sabe o que quer
E se apaixona por uma mulher
Ele faz desse amor sua vida
A comida, a bebida, na justa medida?
Roberto Carlos - Erasmo Carlos
(1981)