segunda-feira, dezembro 13, 2004

"A esmagadora maioria das vítimas das torturas da ditadura chilena tinha menos de 30 anos"

testemunho II. «No dia 19 de Setembro, tiraram-nos das celas e começaram a agredir-nos. Com um martelo de madeira, um carabineiro deu-me uma martelada nos dedos mindinhos, antes de tentar arrancar-me as unhas com um alicate. Nesse momento, entrou um sargento na sala, tirou-lhe o alicate e começou a arrancar-me o bigode (...). Consegui morder-lhe na mão, mas levei com uma coronha na cabeça (...). Desmaiei. Quando recuperei os sentidos, descobri que sangrava abundantemente... e dei-me conta que me faltavam oito dentes...» (Homem detido em Setembro de 1973, na 3.ª Esquadra de Rahue, X Região.)

testemunho V. «Mal cheguei, despiram-me (...). Colocaram-me um bloco de cimento no ventre e começaram a dar-me choques eléctricos na vagina, no peito e nos ouvidos, e encheram-me a boca com excrementos de animais. Seguramente para que os meus gritos e os meus berros não se ouvissem Durante várias horas foi assim. Depois largaram-me despida, no chão. Nessa altura, estava com o período. Mesmo assim, violaram-me três vezes (...). Nunca tinha contado isto. Nem à minha família.» (Mulher detida em Novembro de 1973, no Regimento Tucapel, IX Região.)

testemunho VIII. «Estava quase a anoitecer, quando ouvi gritos (...). O terror mais profundo que um ser humano pode conhecer invadiu-me, quando percebi que os gritos eram do meu irmão.» (Mulher detida em Setembro de 1973, na 4.ª Esquadra de Talca, na VII Região.) Testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)

testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)

testemunho VII. «Encostaram- -me a um muro com os olhos vendados. Pouco depois tiraram-me a venda e ordenaram-me que olhasse para os meus companheiros pela última vez. Voltaram a vendar-me (...). Passaram-se vários minutos, horas, não sei. Ouvi a ordem de fogo ao pelotão e os disparos. Seguiu-se um silêncio profundo. Depois alguns passos e silêncio outra vez. Não sabia onde estava. Não me atrevia a falar, nem a tocar-me (...). Estava nestas divagações, que devem ter durado umas fracções de segundos, quando ouço a voz seca de um militar que me grita Desta vez, salvaste-te. Para a próxima não escapas.» (Homem detido em Setembro de 1973 na Esquadra de Puerto Aysén, na XI Região.)

in Diário de Notícias


A esmagadora maioria das vítimas das torturas da ditadura chilena tinha a minha idade ou era mais nova.