quinta-feira, novembro 11, 2004

grande novidade...

Disfunção Sexual nas Mulheres É Maior do Que nos Homens
Por CATARINA GOMES

A prevalência de disfunções sexuais nas mulheres é maior que nos homens, mas a maioria dos medicamentos no mercado dirige-se aos problemas masculinos, concluiu anteontem em Lisboa o presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, António Santinho Martins, no último dia das jornadas que comemoram os 20 anos do organismo.

Cerca de 43 por cento das mulheres terão algum tipo de disfunção sexual (14 por cento ligada com a incapacidade de excitação), enquanto este valor nos homens se ficará pelos 31 por cento, indicou um estudo feito nos EUA pelo National Health and Social Live Survey e citado por Santinho Martins, médico endocrinologista no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, para referir que o problema é mais prevalente entre as mulheres.

A data, considerada histórica, do lançamento do Viagra no mercado mundial (1998) deu uma visibilidade à disfunção eréctil que o problema similar na mulher ainda não adquiriu, reiterou. "É o lado silencioso da questão", comentou Santinho Martins.

Mas o cenário parece estar a mudar, acrescentou, até porque a indústria farmacêutica se está a aperceber de que o mercado das mulheres é muito maior que o dos homem - só nos EUA estima-se que sejam 47 milhões de mulheres com disfunções sexuais, contra 31 milhões de homens.

O que acontece é que com os remédios existentes "é possível curar 90 por cento dos problemas dos homens e só cerca de 20 por cento dos das mulheres". A falta de desejo é a disfunção mais frequente na mulher e a sua melhoria por via farmacológica está muito pouco explorada; no homem, a perturbação mais comum é a disfunção eréctil e há mais soluções terapêuticas.

"Os medicamentos para a disfunção dos homens são mais do que satisfatórios, para as mulheres são mais do que insatisfatórios", concordou a psicóloga do Hospital Júlio de Matos Catarina Soares. Mas defendeu que nem tudo se resolve com "a medicamentalização da sexualidade", uma vez que a falta de resposta sexual feminina está mais condicionada por aspectos afectivos e sócio-culturais.

"Há um número significativo de disfunções sexuais sem problemas orgânicos. O estado de ignorância em relação à mulher é ainda grande", defendeu a psicóloga.

Há muito desconhecimento em torno "da fisiologia da excitação da mulher": o que se sabe é que a sexualidade feminina está muito mais ligada a aspectos afectivos e psicológicos do que no homem, frisou Santinho Martins.

Envelhecimento e "stress"

"Tenho esperança que dentro de cinco anos vamos ter mais medicação para a mulher, há substâncias em estudo", continuou o endocrinologista.

O sexólogo Allen Gomes traçou um cenário animador em que o ano do lançamento do Viagra como que encerra a hegemonia do homem na disciplina da sexologia e há indícios de que se está a entrar "nos anos das mulheres".

Os novos desafios da sexologia têm também a ver com a disfunção eréctil em homens mais velhos. Os técnicos registam a procura crescente nas consultas de sexologia de doentes crónicos, um sintoma de que o direito à saúde sexual chega a cada vez mais pessoas, reitera Santinho Martins.

O aumento da disfunção eréctil do homem é também sinal do envelhecimento da população, do aumento de hábitos tabágicos, do sedentarismo, do "stress" e de doenças cardiovasculares, enunciou Santinho Martins.

in Público