no dia em que termino mais um trabalho sobre goa, recebo a notícia da morte do meu tio xavier, marido da minha tia amália, irmã mais nova do meu pai. aqui sentada em frente a este ecrã, olho a fotografia plastica que decora uma das paredes deste escritório e vejo o meu tio xavier sentado na varanda tipicamente indo-portuguesa que fronteia a nossa casa em goa. soori. ao seu lado senta-se o meu tio filipinho, também já morto, irmão do meu pai, um homem afável, que tinha a voz e as mãos do meu pai. do outro lado, sorri a minha tia amália, com o seu sari rosa e azul escuro e o seu cabelo preto apanhado.
hoje sinto a falta da minha presença naquela casa em pondá, onde a minha tia chora a morte súbita do marido e os meus primos vivem o seu primeiro dia sem pai.
sexta-feira, fevereiro 27, 2004
sábado, fevereiro 21, 2004
hermana
a minha irmã acabou de sair de minha casa, levando uma matraquilha chorosa que queria ir ver mais "pathinhos": o passeio à quinta pedagógica, onde os patos tentavam roubar as suas bolachinhas, foi frustrado pela chuva repentina.
saiu de minha casa com a matraquilha e com uma grande mala preta, feia, de verniz, muito, muito feia (onde é que ela terá comprado aquilo?!) repleta de cd's. alguns meus, claro... fico sempre com o coração nas mãos quando lhe empresto alguma coisa: em primeiro lugar, porque sou sunica (é assim que se escreve?), e segundo, porque a mana tem o condão de partir, perder ou estragar tudo o que lhe empresto. lá foi ela com o chico césar, com os capital inicial e o zeca baleiro. também levou um sergio godinho e um tito paris, que lhe tinha surripiado há muito tempo. enquanto a via, com um ar guloso, enfiar os cds na mala feia (inimaginavelmente feia...), disse-lhe com um ar sério por fora, mas a rir-me por dentro: então os hermanos ficam?! abriu os olhos, balbuciou qualquer coisa com um ar indignado, disse eu ouço isso sempre...! não, não! não, não! se quiseres eu ofereço-te. olhei a matraquilha que se sentava nas pernas da mãe e cantava o fim das palavras de cada verso da música preferida daquele álbum...
estou lixada se não gostar dos los hermanos. a hermana vai-me perseguir a vida inteira, lançando olhares de desprezo sempre que lhe aparecer com outra voz, outro som, outro ritmo.
saiu de minha casa com a matraquilha e com uma grande mala preta, feia, de verniz, muito, muito feia (onde é que ela terá comprado aquilo?!) repleta de cd's. alguns meus, claro... fico sempre com o coração nas mãos quando lhe empresto alguma coisa: em primeiro lugar, porque sou sunica (é assim que se escreve?), e segundo, porque a mana tem o condão de partir, perder ou estragar tudo o que lhe empresto. lá foi ela com o chico césar, com os capital inicial e o zeca baleiro. também levou um sergio godinho e um tito paris, que lhe tinha surripiado há muito tempo. enquanto a via, com um ar guloso, enfiar os cds na mala feia (inimaginavelmente feia...), disse-lhe com um ar sério por fora, mas a rir-me por dentro: então os hermanos ficam?! abriu os olhos, balbuciou qualquer coisa com um ar indignado, disse eu ouço isso sempre...! não, não! não, não! se quiseres eu ofereço-te. olhei a matraquilha que se sentava nas pernas da mãe e cantava o fim das palavras de cada verso da música preferida daquele álbum...
estou lixada se não gostar dos los hermanos. a hermana vai-me perseguir a vida inteira, lançando olhares de desprezo sempre que lhe aparecer com outra voz, outro som, outro ritmo.
quinta-feira, fevereiro 19, 2004
terça-feira, fevereiro 17, 2004
segunda-feira, fevereiro 16, 2004
cantada pela elis regina, esta é a única música que me faz chorar
No dia em que eu vim-me embora
Caetano Veloso
No dia em que eu vim-me embora
Minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui
E eu nem olhava pra trás
No dia que eu vim-me embora
Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha vó já quase morta
Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua
E até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho
Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo
Nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada
Fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital…
Caetano Veloso & Gilberto Gil
(1968)
no dia em que parti para o brasil, pensava em não voltar. deixava para trás a minha família. vejo ainda o meu pai a arrastar a minha mãe pelo aeroporto fora, a minha mãe, que me olhava, virando a cabeça para trás, com um sorriso forte, a segundos de se transformar em choro. regressei a tempo de assistir ao definhar da minha avó, a tempo de presenciar o nascimento do diogo, o filho mais velho do meu irmão. não chorei quando me vim embora de portugal. mas choro sempre que ouço esta música, cantada pela elis regina. ela canta-a no feminino e, nesse momento, eu sou esta mulher com a mala de couro com pano forte brim cáqui. e volto a ser aquela rapariga que olhava a mãe arrastada pelo pai que não queria olhar para trás.
Caetano Veloso
No dia em que eu vim-me embora
Minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui
E eu nem olhava pra trás
No dia que eu vim-me embora
Não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha vó já quase morta
Minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua
E até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho
Vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo
Nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada
Fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital…
Caetano Veloso & Gilberto Gil
(1968)
no dia em que parti para o brasil, pensava em não voltar. deixava para trás a minha família. vejo ainda o meu pai a arrastar a minha mãe pelo aeroporto fora, a minha mãe, que me olhava, virando a cabeça para trás, com um sorriso forte, a segundos de se transformar em choro. regressei a tempo de assistir ao definhar da minha avó, a tempo de presenciar o nascimento do diogo, o filho mais velho do meu irmão. não chorei quando me vim embora de portugal. mas choro sempre que ouço esta música, cantada pela elis regina. ela canta-a no feminino e, nesse momento, eu sou esta mulher com a mala de couro com pano forte brim cáqui. e volto a ser aquela rapariga que olhava a mãe arrastada pelo pai que não queria olhar para trás.
domingo, fevereiro 15, 2004
quinta-feira, fevereiro 12, 2004
beto
sabe apenas que a sua mãe se chama natália. que era ainda uma miúda quando o teve. que o abandonou nos braços do pai. que o voltou a ter por momentos, fugida mas rapidamente apanhada. imagino o pai a mandar parar a camioneta onde o menino dormia ao colo da mãe que, pela primeira vez em dias, o acarinhava e apertava contra si. imagino sempre uma cena de filme. o homem a mandar para a camioneta, a mulher desesperada a olhar para ele, o calor abafado que os fazia suar, o homem a tirar o menino à mãe, desajeitado, apressado, a mãe a chorar, o menino a chorar, e a câmera lentamente a acompanhar o homem, que sai para o meio de uma estrada de terra batida, perdida no meio de moçambique.
esse homem é meu pai, esse menino meu irmão. essa mulher não a conheço. nem quero. por momentos, há quase quarenta anos, roubava-me o meu irmão, muito antes de nascer.
esse homem é meu pai, esse menino meu irmão. essa mulher não a conheço. nem quero. por momentos, há quase quarenta anos, roubava-me o meu irmão, muito antes de nascer.
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
escreve
"temos uma filha que escreve". é assim que edith frank, a mãe de anne frank, diz a miep aquilo que se tornou público ao mundo após a publicação do diário.
ultimamente, sempre que leio o blog da minha irmã, vejo-me na pele daquela mãe, olhando a amiga, dizendo simplesmente: "tenho uma irmã que escreve".
ultimamente, sempre que leio o blog da minha irmã, vejo-me na pele daquela mãe, olhando a amiga, dizendo simplesmente: "tenho uma irmã que escreve".
terça-feira, fevereiro 10, 2004
depois...
depois de estacionar o carro do meu pai numa rua íngreme perto da calçada do combro...
depois de me decidir a descer a rua, em vez de a subir, por preguiça, por não querer passar pelos adolescentes sentados nas escadas da igreja...
depois de ouvir vozes altas, vozes grossas que enchiam a rua estreita que descia...
depois de passar pela tasca e espreitar de relance os homens, três homens, que falavam alto e grosso...
depois de reparar no bêbado empoleirado numa estrutura de ferro que impede os peões de se precipitarem para o meio da estrada...
depois de pensar "que merda, o bêbado ainda se vai meter comigo!"
depois de resolver "tenho de passar discretamente pelo bêbado, não se vá ele meter comigo..."
depois de de chegar ao final da rua, olhar para o bêbado e virar à esquerda, na esquina...
depois...
depois estatelei-me ao comprido entre o passeio e estrada, caí com o corpo todo no meio do alcatrão. a asa da mala prendeu-se no pino verde que resguarda o passeio dos carros e, no preciso momento em que ia virar à esquerda, senti-me em desequilíbrio. alguma coisa impedia-me de andar. senti o joelho embater fortemente no chão, dei uma volta de 90 garus sobre mim própria, larguei a mala, tentei aparar a queda com as mãos. o queixo e o nariz rasparam o alcatrão e só parei quando minha testa embateu no pneu de uma vespa verde que aguardava pacientemente o retorno do seu dono.
depois...
depois de levantar-me atordoada...
depois do bêbado atravessar a estrada em meu auxílio, gritando "então?! então?! sozinha???".
depois de ouvir vozes e ver uma mulher gorda a olhar para mim com um ar perplexo...
depois de agarrar a mala que, ironicamente, fazia de argola em redor do pino verde...
depois de me sentir idiota, ridícula e pequeno-bruguesa, num misto de riso e de susto...
depois de subir no escuro, insegura, dois lances de escadas íngremes...
depois disto tudo... a ginoca deu-me um anjo da guarda, comprado por ela e nathalie em luanda.
um anjinho que está pendurado na porta da varanda e que espero me proteja desta e de todas as outras quedas.
nat, gi: obrigada.
depois de me decidir a descer a rua, em vez de a subir, por preguiça, por não querer passar pelos adolescentes sentados nas escadas da igreja...
depois de ouvir vozes altas, vozes grossas que enchiam a rua estreita que descia...
depois de passar pela tasca e espreitar de relance os homens, três homens, que falavam alto e grosso...
depois de reparar no bêbado empoleirado numa estrutura de ferro que impede os peões de se precipitarem para o meio da estrada...
depois de pensar "que merda, o bêbado ainda se vai meter comigo!"
depois de resolver "tenho de passar discretamente pelo bêbado, não se vá ele meter comigo..."
depois de de chegar ao final da rua, olhar para o bêbado e virar à esquerda, na esquina...
depois...
depois estatelei-me ao comprido entre o passeio e estrada, caí com o corpo todo no meio do alcatrão. a asa da mala prendeu-se no pino verde que resguarda o passeio dos carros e, no preciso momento em que ia virar à esquerda, senti-me em desequilíbrio. alguma coisa impedia-me de andar. senti o joelho embater fortemente no chão, dei uma volta de 90 garus sobre mim própria, larguei a mala, tentei aparar a queda com as mãos. o queixo e o nariz rasparam o alcatrão e só parei quando minha testa embateu no pneu de uma vespa verde que aguardava pacientemente o retorno do seu dono.
depois...
depois de levantar-me atordoada...
depois do bêbado atravessar a estrada em meu auxílio, gritando "então?! então?! sozinha???".
depois de ouvir vozes e ver uma mulher gorda a olhar para mim com um ar perplexo...
depois de agarrar a mala que, ironicamente, fazia de argola em redor do pino verde...
depois de me sentir idiota, ridícula e pequeno-bruguesa, num misto de riso e de susto...
depois de subir no escuro, insegura, dois lances de escadas íngremes...
depois disto tudo... a ginoca deu-me um anjo da guarda, comprado por ela e nathalie em luanda.
um anjinho que está pendurado na porta da varanda e que espero me proteja desta e de todas as outras quedas.
nat, gi: obrigada.
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
sempre a primeira vez
no final de fevereiro o sergio godinho dá mais um concerto. para mim e para a minha irmã, um concerto do sérgio godinho é sempre como se fosse a primeira vez. os berrinhos, a excitação, a expectativa...
não será a primeira vez para nós , mas sim para o matraquilho mais velho. orgulhosas, ansiosas, a mãe e a tia entrarão pelo coliseu adentro, com o matraquilho pelas mãos. pela primeira vez ele vai assistir à tia histérica aos pulinhos na cadeira, ao soltar os seus estridentes "iiihuuuuuuu!" e mãe envergonhada, a dizer entre-dentes "eu não te conheço!".
não será a primeira vez para nós , mas sim para o matraquilho mais velho. orgulhosas, ansiosas, a mãe e a tia entrarão pelo coliseu adentro, com o matraquilho pelas mãos. pela primeira vez ele vai assistir à tia histérica aos pulinhos na cadeira, ao soltar os seus estridentes "iiihuuuuuuu!" e mãe envergonhada, a dizer entre-dentes "eu não te conheço!".
como eu imaginava que seria o amor II
2º ANDAR, DIREITO
Ele vinte anos, e ela dezoito
e há cinco dias sem trocarem palavra
lembrando as zangas que um só beijo curava
e esta história começa no instante
em que o homem empurra a porta pesada
e entra no quarto onde a mulher está deitada
a dormir de um sono ligeiro
E no quarto, às cegas,
o escuro abraça-o como que a um companheiro
que se conhece pelo tocar e pelo o cheiro
e é o ruído que o chão faz que lhe traz
o gosto ao quarto depois de uma ruptura
faz-lhe sentir que entre os dois algo ainda dura
dos dias em que um beijo bastava
E agora, da cama
vem uma voz que diz sussurando: És tu?
e a luz acende-se sobre um braço nu
e a mulher pergunta: A que vens agora?
é que não sei se reparaste na hora
deixa dormir quem quer dormir, vai-te embora
amanhã tenho de ir trabalhar
Não fales, que o bébé ainda acorda
não grites, que o vizinho ainda acorda
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir, o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais
E o homem de pé
parece um rapazinho a ver se compreende
e grita e diz que ele também não se vende
que quer a paz mas de outra maneira
e nem que essa noite fosse a derradeira
veio afirmar quer ela queira ou não queira
que os dois ainda têm muito que aprender
Se temos…! diz ela
mas o problema não é só de aprender
é saber a partir daí que fazer
e o homem diz: Que queres que eu responda?
Não estamos no mesmo comprimento de onda…
Tu a mandares-me esse sorriso à Gioconda
e eu com ar de filme americano
Somos tão novos, diz o homem
e agora é a vez de a mulher se impacientar
essa frase já começa a tresandar
é que não é só uma questão de identidade
é eu ou tu, seja quem for, ter vontade
de mudar ou deixar mudar
Não fales,…
E assim se ouviu
pela noite fora os dois amantes falar
e o que não vi só tive que imaginar
é preciso explicar que sou eu o vizinho
e à noite vivo neste quarto sozinho
corpo cansado e cabeça em desalinho
e o prédio inteiro nos meus ouvidos
Veio a manhã e diziam
telefona ao teu patrão, diz que hoje não vais
que viveste uns dias assim tão brutais
e que precisas de convalescença
sei lá, inventa qualquer coisa, uma doença
mete um atestado ou pede licença
sem prazo nem vencimento, se preciso for
(Espero que não seja preciso, porque não
sei como é que eles vão viver sem os dois salários…)
Vá fala, que o bébé está acordado
o vizinho deve estar já acordado
e o amor, pronto, também está acordado
mas tem cuidado, trata-o bem
muito bem, de mansinho
que ainda agora vai pisar outro caminho.
Sérgio Godinho
Pano Cru
(1978)
*******************************************
como o meu amor é.
(óbvio que metaforicamente!)
Ele vinte anos, e ela dezoito
e há cinco dias sem trocarem palavra
lembrando as zangas que um só beijo curava
e esta história começa no instante
em que o homem empurra a porta pesada
e entra no quarto onde a mulher está deitada
a dormir de um sono ligeiro
E no quarto, às cegas,
o escuro abraça-o como que a um companheiro
que se conhece pelo tocar e pelo o cheiro
e é o ruído que o chão faz que lhe traz
o gosto ao quarto depois de uma ruptura
faz-lhe sentir que entre os dois algo ainda dura
dos dias em que um beijo bastava
E agora, da cama
vem uma voz que diz sussurando: És tu?
e a luz acende-se sobre um braço nu
e a mulher pergunta: A que vens agora?
é que não sei se reparaste na hora
deixa dormir quem quer dormir, vai-te embora
amanhã tenho de ir trabalhar
Não fales, que o bébé ainda acorda
não grites, que o vizinho ainda acorda
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir, o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais
E o homem de pé
parece um rapazinho a ver se compreende
e grita e diz que ele também não se vende
que quer a paz mas de outra maneira
e nem que essa noite fosse a derradeira
veio afirmar quer ela queira ou não queira
que os dois ainda têm muito que aprender
Se temos…! diz ela
mas o problema não é só de aprender
é saber a partir daí que fazer
e o homem diz: Que queres que eu responda?
Não estamos no mesmo comprimento de onda…
Tu a mandares-me esse sorriso à Gioconda
e eu com ar de filme americano
Somos tão novos, diz o homem
e agora é a vez de a mulher se impacientar
essa frase já começa a tresandar
é que não é só uma questão de identidade
é eu ou tu, seja quem for, ter vontade
de mudar ou deixar mudar
Não fales,…
E assim se ouviu
pela noite fora os dois amantes falar
e o que não vi só tive que imaginar
é preciso explicar que sou eu o vizinho
e à noite vivo neste quarto sozinho
corpo cansado e cabeça em desalinho
e o prédio inteiro nos meus ouvidos
Veio a manhã e diziam
telefona ao teu patrão, diz que hoje não vais
que viveste uns dias assim tão brutais
e que precisas de convalescença
sei lá, inventa qualquer coisa, uma doença
mete um atestado ou pede licença
sem prazo nem vencimento, se preciso for
(Espero que não seja preciso, porque não
sei como é que eles vão viver sem os dois salários…)
Vá fala, que o bébé está acordado
o vizinho deve estar já acordado
e o amor, pronto, também está acordado
mas tem cuidado, trata-o bem
muito bem, de mansinho
que ainda agora vai pisar outro caminho.
Sérgio Godinho
Pano Cru
(1978)
*******************************************
como o meu amor é.
(óbvio que metaforicamente!)
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
domingo, fevereiro 01, 2004
como eu imaginava que seria o amor
Que maravilha
Lá fora está chovendo.
Mas assim mesmo
Eu vou correndo
Só pra ver o meu amor.
Ela vem toda de branco.
Toda molhada e despenteada,
Que maravilha,
Que coisa linda
Que é o meu amor.
Por entre bancários, automóveis,
Ruas e avenidas
Milhões de buzinas
Tocando sem cessar.
Ela vem chegando de branco,
Meiga, linda e muito tímida.
Com a chuva molhando seu corpo
Que eu vou abraçar.
E a gente no meio da rua,
Do mundo, no meio da chuva,
A girar,
Que maravilha,
Que maravilha,
Que maravilha.
Toquinho - Jorge Benjor
Lá fora está chovendo.
Mas assim mesmo
Eu vou correndo
Só pra ver o meu amor.
Ela vem toda de branco.
Toda molhada e despenteada,
Que maravilha,
Que coisa linda
Que é o meu amor.
Por entre bancários, automóveis,
Ruas e avenidas
Milhões de buzinas
Tocando sem cessar.
Ela vem chegando de branco,
Meiga, linda e muito tímida.
Com a chuva molhando seu corpo
Que eu vou abraçar.
E a gente no meio da rua,
Do mundo, no meio da chuva,
A girar,
Que maravilha,
Que maravilha,
Que maravilha.
Toquinho - Jorge Benjor