terça-feira, fevereiro 10, 2004

depois...

depois de estacionar o carro do meu pai numa rua íngreme perto da calçada do combro...

depois de me decidir a descer a rua, em vez de a subir, por preguiça, por não querer passar pelos adolescentes sentados nas escadas da igreja...

depois de ouvir vozes altas, vozes grossas que enchiam a rua estreita que descia...

depois de passar pela tasca e espreitar de relance os homens, três homens, que falavam alto e grosso...

depois de reparar no bêbado empoleirado numa estrutura de ferro que impede os peões de se precipitarem para o meio da estrada...

depois de pensar "que merda, o bêbado ainda se vai meter comigo!"

depois de resolver "tenho de passar discretamente pelo bêbado, não se vá ele meter comigo..."

depois de de chegar ao final da rua, olhar para o bêbado e virar à esquerda, na esquina...

depois...

depois estatelei-me ao comprido entre o passeio e estrada, caí com o corpo todo no meio do alcatrão. a asa da mala prendeu-se no pino verde que resguarda o passeio dos carros e, no preciso momento em que ia virar à esquerda, senti-me em desequilíbrio. alguma coisa impedia-me de andar. senti o joelho embater fortemente no chão, dei uma volta de 90 garus sobre mim própria, larguei a mala, tentei aparar a queda com as mãos. o queixo e o nariz rasparam o alcatrão e só parei quando minha testa embateu no pneu de uma vespa verde que aguardava pacientemente o retorno do seu dono.

depois...

depois de levantar-me atordoada...

depois do bêbado atravessar a estrada em meu auxílio, gritando "então?! então?! sozinha???".

depois de ouvir vozes e ver uma mulher gorda a olhar para mim com um ar perplexo...

depois de agarrar a mala que, ironicamente, fazia de argola em redor do pino verde...

depois de me sentir idiota, ridícula e pequeno-bruguesa, num misto de riso e de susto...

depois de subir no escuro, insegura, dois lances de escadas íngremes...

depois disto tudo... a ginoca deu-me um anjo da guarda, comprado por ela e nathalie em luanda.

um anjinho que está pendurado na porta da varanda e que espero me proteja desta e de todas as outras quedas.

nat, gi: obrigada.