sabe apenas que a sua mãe se chama natália. que era ainda uma miúda quando o teve. que o abandonou nos braços do pai. que o voltou a ter por momentos, fugida mas rapidamente apanhada. imagino o pai a mandar parar a camioneta onde o menino dormia ao colo da mãe que, pela primeira vez em dias, o acarinhava e apertava contra si. imagino sempre uma cena de filme. o homem a mandar para a camioneta, a mulher desesperada a olhar para ele, o calor abafado que os fazia suar, o homem a tirar o menino à mãe, desajeitado, apressado, a mãe a chorar, o menino a chorar, e a câmera lentamente a acompanhar o homem, que sai para o meio de uma estrada de terra batida, perdida no meio de moçambique.
esse homem é meu pai, esse menino meu irmão. essa mulher não a conheço. nem quero. por momentos, há quase quarenta anos, roubava-me o meu irmão, muito antes de nascer.