tremo. mas não frio, aqui nesta sala aquecida. tremo. não consigo controlar o meu corpo, parece que me descarregam choques eléctricos nas costas, os meus dedos não acertam nestas teclas demasiado juntas. tremo de frio, afinal... de um gelo que me assaltou ainda há pouco. as minhas pernas estremecem e os meus cotovelos não se conseguem apoiar nesta mesa. vejo o cigarro que fumo em equilíbrio perquilitante à minha frente, na curta viagem entre o cinzeiro e a boca. tremo de frio, de medo, de medo, de medo.
já viste? sou a única pessoa que te chama de mana. nem o joão, nem a dadá, nem o reinaldo, nunca nenhum deles poderá ouvir-se a dizer mana. falar mana. sorrir mana. gritar mana. chorar mana. este é o meu único exclusivo em relação a ti. e como lhe tenho apreço! o prazer que me dá soletrar mana quando estou contigo... é esse o teu nome para mim. sabes que quando era miúda, e não tinha nada que fazer nas aulas, escrevinhava o teu nome nas folhas do caderno? que quando comprava uma caneta nova era o teu nome que a minha mão desenhava no papel? estreavas-as sempre com o teu nome, não com o meu. o teu nome bonito, claro, radioso, que me fazia inveja por soar tão bem, por ser curto e ritmado, por ter um ar doce, de menina. todas as músicas eram com o teu nome, ao contrário do meu, que embora também englobe o teu, se perde e se enfada na antecipação das letras. lembraste?
sabes que não imagino a minha vida sem ti? tal e qual o joão ou a dadá. és a minha pequena mãe. a minha irmã mais velha. o meu porto seguro. alimentas-me os dias. nunca reparaste como digo mana com um orgulho que me enche o peito, com um amor que que me extravaza?
queria morrer antes de ti... para nunca sentir a tua falta.