terça-feira, setembro 02, 2003

de volta ao trabalho. por isso mesmo, de volta à depressão de ter de trabalhar num organismo moribundo e asfixiado, que limita todos aqueles que aqui trabalham. este sítio... onde trabalho está para ser extinto... desde 2001, desde que o sr. engenheiro descobriu que governava não um país mas sim um pântano. isto aqui, onde trabalho, isto aqui é um verdadeiro pântano. um pântano com um polvo, um polvo que acha que coordenar é estender os seus tentáculos pela sala fora, pelas vidas das pessoas, pelas suas expectativas, pelas suas frustrações. é um grande polvo, com longos e grossos braços, que balofamente se impõe perante todos os outros, que engana e se dissimula por detrás dos seus jactos de tinta podre, dos seus sons obtusos e risíveis, dos seus olhos esbugalhados e enganadores. mas o que mais me impressiona é como é que o pântano ainda não foi drenado e o polvo capturado. porque é que isto ainda não foi extinto, alguém me responde? como é que isto sobrevive, como é que se agarram à miserável esperança de que algum secretário de estado aprove a continuação de um pântano destes, que ainda por cima foi ocupado por um grande mas deficitário polvo? alguém de explica? porque afinal, estes secretários de estado têm de estar mais preocupados em criar e procriar os seus próprios pântanos?

isto vai ser extinto. tem de ser. nem que seja para passar para outro lado qualquer, alguma direcção, algum departamento carente de projectos interessantes. e depois aí... ai! vai ser um alívio. por outro lado tb vai ser um pânico mas... tb vai ser um alívio. não ter de acordar cedo para atravessar a cidade de uma ponta à outra. não ter de trabalhar com casacos de malha em pleno agosto porque o polvo obriga a que o ar condicionado esteja na bola vermelha no termóstato, nem que isso signifique as pessoas andarem o dia inteiro cheias de frio. não ter de ligar o computador velho, que me obriga a iniciá-lo várias vezes os dia. não ouvir os telefones a tocar e temer que a voz do lado de lá seja a do polvo, sempre demasiado seca ou demasiado melosa. não ter de falar ao polvo, não ter de falar com o polvo, não ter de ver o polvo, não ter de cheirar o polvo, que tem um cheiro insuportável e barato. não ter de ouvir as suas partenaires, as lulas, histéricas e pouco inteligentres, que a tudo lhe dizem que sim, com olhos de admiração. não ter de comer em 15 minutos, entalada entre um frigorífico e um micro-ondas e a minúscula mesa de tampo branco. não ter de escrever faxes, não ter de carimbar faxes, não ter de enviar faxes. não precisar de estar aqui, como estou agora. ir embora. fazer alguma coisa da minha vida.

pode ser que em outubro chegue a minha libertação...