PS aceita apoio de Pinto da Costa e critica «leviandade» de Rui Rio
levianos são eles! leviandade é apoiar publicamente este cacique abominável, que se acha dono e senhor do norte, este suíno corrupto e desonesto que representa tudo aquilo que a classe política devia desprezar.
"Para Francisco Assis, as palavras de Rui Rio «são indignas, levianas e ofensivas». O líder do PS/Porto acrescenta que a «presunção de inocência aplica-se a todos», por isso o apoio de Pinto da Costa à candidatura socialista «é bem-vindo» e será acolhido «sem complexos»."
desconfio que aqueles tipos em felgueiras devem ter partido algo mais que os óculos do francisco assis... algures no meio da pancadaria, destruiram-lhe também a dignidade, o bom senso e a inteligência.
domingo, dezembro 19, 2004
quarta-feira, dezembro 15, 2004
a festa de natal
a escola ao lado de minha casa está a fazer a sua festa de natal. há mais de uma hora que ouço pífaros desafinados, berros, guinchos, pianos a tocar "ó clarinha olha as pombas" e putos iludidos que são uma banda de rock.
estou farta! a minha vontade era pô-los a todos no autocarro sequestrado ao pé de atenas e mandá-los para o raio que os parta juntamente com os sequestradores russos, de preferência para os cascos de rolha da sibéria!
estou farta! a minha vontade era pô-los a todos no autocarro sequestrado ao pé de atenas e mandá-los para o raio que os parta juntamente com os sequestradores russos, de preferência para os cascos de rolha da sibéria!
segunda-feira, dezembro 13, 2004
"A esmagadora maioria das vítimas das torturas da ditadura chilena tinha menos de 30 anos"
testemunho II. «No dia 19 de Setembro, tiraram-nos das celas e começaram a agredir-nos. Com um martelo de madeira, um carabineiro deu-me uma martelada nos dedos mindinhos, antes de tentar arrancar-me as unhas com um alicate. Nesse momento, entrou um sargento na sala, tirou-lhe o alicate e começou a arrancar-me o bigode (...). Consegui morder-lhe na mão, mas levei com uma coronha na cabeça (...). Desmaiei. Quando recuperei os sentidos, descobri que sangrava abundantemente... e dei-me conta que me faltavam oito dentes...» (Homem detido em Setembro de 1973, na 3.ª Esquadra de Rahue, X Região.)
testemunho V. «Mal cheguei, despiram-me (...). Colocaram-me um bloco de cimento no ventre e começaram a dar-me choques eléctricos na vagina, no peito e nos ouvidos, e encheram-me a boca com excrementos de animais. Seguramente para que os meus gritos e os meus berros não se ouvissem Durante várias horas foi assim. Depois largaram-me despida, no chão. Nessa altura, estava com o período. Mesmo assim, violaram-me três vezes (...). Nunca tinha contado isto. Nem à minha família.» (Mulher detida em Novembro de 1973, no Regimento Tucapel, IX Região.)
testemunho VIII. «Estava quase a anoitecer, quando ouvi gritos (...). O terror mais profundo que um ser humano pode conhecer invadiu-me, quando percebi que os gritos eram do meu irmão.» (Mulher detida em Setembro de 1973, na 4.ª Esquadra de Talca, na VII Região.) Testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)
testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)
testemunho VII. «Encostaram- -me a um muro com os olhos vendados. Pouco depois tiraram-me a venda e ordenaram-me que olhasse para os meus companheiros pela última vez. Voltaram a vendar-me (...). Passaram-se vários minutos, horas, não sei. Ouvi a ordem de fogo ao pelotão e os disparos. Seguiu-se um silêncio profundo. Depois alguns passos e silêncio outra vez. Não sabia onde estava. Não me atrevia a falar, nem a tocar-me (...). Estava nestas divagações, que devem ter durado umas fracções de segundos, quando ouço a voz seca de um militar que me grita Desta vez, salvaste-te. Para a próxima não escapas.» (Homem detido em Setembro de 1973 na Esquadra de Puerto Aysén, na XI Região.)
in Diário de Notícias
A esmagadora maioria das vítimas das torturas da ditadura chilena tinha a minha idade ou era mais nova.
testemunho V. «Mal cheguei, despiram-me (...). Colocaram-me um bloco de cimento no ventre e começaram a dar-me choques eléctricos na vagina, no peito e nos ouvidos, e encheram-me a boca com excrementos de animais. Seguramente para que os meus gritos e os meus berros não se ouvissem Durante várias horas foi assim. Depois largaram-me despida, no chão. Nessa altura, estava com o período. Mesmo assim, violaram-me três vezes (...). Nunca tinha contado isto. Nem à minha família.» (Mulher detida em Novembro de 1973, no Regimento Tucapel, IX Região.)
testemunho VIII. «Estava quase a anoitecer, quando ouvi gritos (...). O terror mais profundo que um ser humano pode conhecer invadiu-me, quando percebi que os gritos eram do meu irmão.» (Mulher detida em Setembro de 1973, na 4.ª Esquadra de Talca, na VII Região.) Testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)
testemunho IX. «Agrediram-me várias vezes, enquanto era obrigada a presenciar a tortura do meu marido. Depois, despiram-me e amarraram-me a um cadeira metálica. As agressões continuaram. Nessa altura, estava grávida de seis meses.» (Mulher detida em Setembro de 1974. num centro clandestino da DINA em Santiago.)
testemunho VII. «Encostaram- -me a um muro com os olhos vendados. Pouco depois tiraram-me a venda e ordenaram-me que olhasse para os meus companheiros pela última vez. Voltaram a vendar-me (...). Passaram-se vários minutos, horas, não sei. Ouvi a ordem de fogo ao pelotão e os disparos. Seguiu-se um silêncio profundo. Depois alguns passos e silêncio outra vez. Não sabia onde estava. Não me atrevia a falar, nem a tocar-me (...). Estava nestas divagações, que devem ter durado umas fracções de segundos, quando ouço a voz seca de um militar que me grita Desta vez, salvaste-te. Para a próxima não escapas.» (Homem detido em Setembro de 1973 na Esquadra de Puerto Aysén, na XI Região.)
in Diário de Notícias
A esmagadora maioria das vítimas das torturas da ditadura chilena tinha a minha idade ou era mais nova.
quinta-feira, dezembro 09, 2004
ha-ha!
bem me parecia que isto de postar via e-mail era bom demais! os acentos, os ditongos e as cedilhas tomam um aspecto monstruoso e mutilam o nosso belo portugues... estao a ver, portugues e estao sem acentos... nao, assim nao e a mesma coisa.
merda!
e que assim podia postar do trabalho, fingindo escrever um mail profissional com um ar resoluto!
porra!
segunda-feira, dezembro 06, 2004
gift - o mau presente
não sei muito bem o que vou fazer para o concerto dos gift. não é que não goste deles, atenção! até gosto... mas confesso que preferia passar a noite em casa, debaixo da mantinha, sentada no sofá e a escutar uma chaleira imaginária a chiar, cheia de chazinho com limão e mel.
não, a sónia qualquercoisa não estava nos meus planos para hoje à noite e este não é o presente que pretendia receber.
(continuo sinistramente a respirar pela boca. daqui a pouco saco do meu sabre de luz e desato a cortar umas quantas cabeças!)
o bafo
tentei adormecer com as duas luzes do quarto acesas, encostada ao manel, que me tocava com os seus pés gelados. dei mil e uma voltas, de um lado para o outro, tentado descobrir a melhor posição para dormir. não consegui. o nariz congestionado obrigou-me a respirar pela boca, e hoje de manhã acordei com o pior bafo possível. lavei aturadamente a minha dentição, enquanto arregalava os olhos e descortinava mais um herpes a emergir no meu lábio inferior. o congestionamento nasal é tal (rimei!) que só me faço lembrar o darth vader e a sua respiração pesada. aquele ser, meio homem e meio máquina, que era pai e inimigo de luke skywalker, a minha primeira paixão pré-adolescente...
meu deus...! o que um bocado de ranho e uns comprimidos não fazem a uma pessoa...
conclusão: foi uma noite de merda, dormi mal, continuo a ser uma pequena darth vader (ainda por cima estou toda de preto) e lá vou eu lançar o meu bafo pestilento para o concerto de gift hoje à noite.
meu deus...! o que um bocado de ranho e uns comprimidos não fazem a uma pessoa...
conclusão: foi uma noite de merda, dormi mal, continuo a ser uma pequena darth vader (ainda por cima estou toda de preto) e lá vou eu lançar o meu bafo pestilento para o concerto de gift hoje à noite.
terça-feira, novembro 30, 2004
clã
inquestionavelmente, a melhor banda de música portuguesa.
impressionantemente, não consegui uma imagem de jeito para alindar o post. ando há meia hora à procura e nada. nem da capa do álbum, nada...
ou seja, este post não é nada daquilo que eu tenho vindo a imaginar desde sexta-feira à noite. foda-se!
(claro que a palavra "foda-se" não se encontrava incluída no post imaginário)
impressionantemente, não consegui uma imagem de jeito para alindar o post. ando há meia hora à procura e nada. nem da capa do álbum, nada...
ou seja, este post não é nada daquilo que eu tenho vindo a imaginar desde sexta-feira à noite. foda-se!
(claro que a palavra "foda-se" não se encontrava incluída no post imaginário)
terça-feira, novembro 23, 2004
pergunta a mim mesma
onde é que eu tinha a cabeça quando me resolvi meter num mestrado?
será que já não tinha aprendido com a tese de licenciatura? ou com a monografia da pós-graduação?
tenho a vida em suspenso, isso sim...
será que já não tinha aprendido com a tese de licenciatura? ou com a monografia da pós-graduação?
tenho a vida em suspenso, isso sim...
terça-feira, novembro 16, 2004
segunda-feira, novembro 15, 2004
continuação do post anterior (agora em perfeito delírio)
Murphy Brown - Hang with Murphy and the gang in Feb **Updated** with extras
Posted by Gord Lacey
11/11/2004
We've just received word from retailers that Warner Bros will release a slew of new TV titles for release on February 8th. We've already told you that Full House, The Fresh Prince of Bel Air and Murphy Brown were coming to DVD in 2005, but now Warner has announced The Wayans Bros, The Jamie Foxx Show and Night Court will join them. That's right, 6 comedies will receive season 1 sets on the same day, and Warner Bros intends to launch a large promotion around the titles.
Candice Bergen stars as Murphy Brown, an outspoken TV journalist, who along with her hilariously quirky cohorts of the top-rated newsmagazine show, FYI, struggles to handle personal and professional problems with humor and insight.
The 22 episodes (572 mins) of Murphy Brown season 1 will retail for $29.98, though you should be able to find it discounted to $25. The episodes are on 2 double-sided discs, with an English stereo soundtrack, and English, French and Spanish subtitles. Special features include an exclusive never-before-seen look back at season one and how it all began. Creator & Cast episode commentary also included.
ai, que até me faltou o ar...
mas que raio... legendas em espanhol?
e que merda é esta de "double-sided discs"?
Posted by Gord Lacey
11/11/2004
We've just received word from retailers that Warner Bros will release a slew of new TV titles for release on February 8th. We've already told you that Full House, The Fresh Prince of Bel Air and Murphy Brown were coming to DVD in 2005, but now Warner has announced The Wayans Bros, The Jamie Foxx Show and Night Court will join them. That's right, 6 comedies will receive season 1 sets on the same day, and Warner Bros intends to launch a large promotion around the titles.
Candice Bergen stars as Murphy Brown, an outspoken TV journalist, who along with her hilariously quirky cohorts of the top-rated newsmagazine show, FYI, struggles to handle personal and professional problems with humor and insight.
The 22 episodes (572 mins) of Murphy Brown season 1 will retail for $29.98, though you should be able to find it discounted to $25. The episodes are on 2 double-sided discs, with an English stereo soundtrack, and English, French and Spanish subtitles. Special features include an exclusive never-before-seen look back at season one and how it all began. Creator & Cast episode commentary also included.
ai, que até me faltou o ar...
mas que raio... legendas em espanhol?
e que merda é esta de "double-sided discs"?
Murphy Brown - FYI: DVDs are in-the-works!
We're sure Dan Quayle won't be thrilled, but we are! Murphy, Jim, Corky, Frank, Miles, and even Eldin the painter and Phil from Phil's Restaurant are all headed to DVD in 2005. Gord Lacey, Webmaster and President of TVShowsOnDVD, is spending this week in L.A. for the 2nd annual TV-DVD Conference. While there he's found out that Murphy Brown, the long-running (10 seasons!) comedy, starring 5-time Emmy-winner Candice Bergen, is in-the-works and should in stores during the first quarter of 2005.
No specific date was given, but stay tuned for the official announcement from Warner Brothers and we'll pass on all the details at that time.
eu sei que isto é perfeitamente estúpido, imbecil, tacanho, infantil mas... porra... até me emocionei!
qual sexo na cidade, qual carapuça! murphy brown rules, m'a man!
qualquer pessoa que seja minha amiga já sabe o que me pode oferecer durante cinco anos em aniversários e natais... depois não digam que não vos facilitei o trabalho.
No specific date was given, but stay tuned for the official announcement from Warner Brothers and we'll pass on all the details at that time.
eu sei que isto é perfeitamente estúpido, imbecil, tacanho, infantil mas... porra... até me emocionei!
qual sexo na cidade, qual carapuça! murphy brown rules, m'a man!
qualquer pessoa que seja minha amiga já sabe o que me pode oferecer durante cinco anos em aniversários e natais... depois não digam que não vos facilitei o trabalho.
sábado, novembro 13, 2004
telefónico
atendi o telefone, disse "tou?": alguém, no meio de arfanços, sussurrou "estou...?" e continuou a ofegar, a respirar pesadamente, ou seja, continuou a bater uma punheta. isso mesmo, com as letras todas, punheta, canhola, masturbação, etc. (ajuda-me aqui com os sinónimos, sérgio!). chocada, coloquei o telefone em alta-voz, para o manel ouvir. ele ouviu e disse "deixa estar, não desligues... deixa-o gastar dinheiro!". e assim ficámos os dois, eu especada, de boca aberta e olhos arregalados, a olhar para o telefone e ele a fingir que lia o último volume do corto maltese editado pelo público. o interlocutor, lá do seu lado, prosseguia com o seu acto de prazer solitário, em companhia da sua vizinha do 5º direito (leia-se a mão, ou ambas) e da nossa sala, que o escutava, espantada. após um minuto (coitado, aquilo foi um bocado super sónico) lá se veio, sem grandes barulhos (é daqueles silenciosos) e desligou. pronto: o trabalhinho já estava feito!
no final desta cena toda, o manel (com um ar falsamente blasé) vira-se para mim e pergunta: “ouve lá, quem é que tem o telefone cá de casa?!”. para além dos meus pais, irmãos, vera e rita n., creio que um senhor intitulado 118 também conhece o número...
...'da-se!
no final desta cena toda, o manel (com um ar falsamente blasé) vira-se para mim e pergunta: “ouve lá, quem é que tem o telefone cá de casa?!”. para além dos meus pais, irmãos, vera e rita n., creio que um senhor intitulado 118 também conhece o número...
...'da-se!
deus e diabo
heavy metal do senhor
(zeca baleiro)
o cara mais underground que eu conheço é o diabo
que no inferno toca cover das canções celestiais
com sua banda formada só por anjos decaídos
a platéia pega fogo quando rolam os festivais
enquanto isso deus brinca de gangorra no playground
do céu com os santos que já foram homens de pecado
de repente os santos falam "toca deus um som maneiro"
e deus fala "aguenta vou rolar um som pesado"
a banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do senhor
a banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do senhor
in Por Onde Andará Stephen Fry?
1997
esta é das canções mais divertidas que alguma vez ouvi. se soubessem a tristeza que tenho por nunca ter percebido como é que se mete músicas nesta merda deste blog!
(zeca baleiro)
o cara mais underground que eu conheço é o diabo
que no inferno toca cover das canções celestiais
com sua banda formada só por anjos decaídos
a platéia pega fogo quando rolam os festivais
enquanto isso deus brinca de gangorra no playground
do céu com os santos que já foram homens de pecado
de repente os santos falam "toca deus um som maneiro"
e deus fala "aguenta vou rolar um som pesado"
a banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do senhor
a banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do senhor
in Por Onde Andará Stephen Fry?
1997
esta é das canções mais divertidas que alguma vez ouvi. se soubessem a tristeza que tenho por nunca ter percebido como é que se mete músicas nesta merda deste blog!
quinta-feira, novembro 11, 2004
grande novidade...
Disfunção Sexual nas Mulheres É Maior do Que nos Homens
Por CATARINA GOMES
A prevalência de disfunções sexuais nas mulheres é maior que nos homens, mas a maioria dos medicamentos no mercado dirige-se aos problemas masculinos, concluiu anteontem em Lisboa o presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, António Santinho Martins, no último dia das jornadas que comemoram os 20 anos do organismo.
Cerca de 43 por cento das mulheres terão algum tipo de disfunção sexual (14 por cento ligada com a incapacidade de excitação), enquanto este valor nos homens se ficará pelos 31 por cento, indicou um estudo feito nos EUA pelo National Health and Social Live Survey e citado por Santinho Martins, médico endocrinologista no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, para referir que o problema é mais prevalente entre as mulheres.
A data, considerada histórica, do lançamento do Viagra no mercado mundial (1998) deu uma visibilidade à disfunção eréctil que o problema similar na mulher ainda não adquiriu, reiterou. "É o lado silencioso da questão", comentou Santinho Martins.
Mas o cenário parece estar a mudar, acrescentou, até porque a indústria farmacêutica se está a aperceber de que o mercado das mulheres é muito maior que o dos homem - só nos EUA estima-se que sejam 47 milhões de mulheres com disfunções sexuais, contra 31 milhões de homens.
O que acontece é que com os remédios existentes "é possível curar 90 por cento dos problemas dos homens e só cerca de 20 por cento dos das mulheres". A falta de desejo é a disfunção mais frequente na mulher e a sua melhoria por via farmacológica está muito pouco explorada; no homem, a perturbação mais comum é a disfunção eréctil e há mais soluções terapêuticas.
"Os medicamentos para a disfunção dos homens são mais do que satisfatórios, para as mulheres são mais do que insatisfatórios", concordou a psicóloga do Hospital Júlio de Matos Catarina Soares. Mas defendeu que nem tudo se resolve com "a medicamentalização da sexualidade", uma vez que a falta de resposta sexual feminina está mais condicionada por aspectos afectivos e sócio-culturais.
"Há um número significativo de disfunções sexuais sem problemas orgânicos. O estado de ignorância em relação à mulher é ainda grande", defendeu a psicóloga.
Há muito desconhecimento em torno "da fisiologia da excitação da mulher": o que se sabe é que a sexualidade feminina está muito mais ligada a aspectos afectivos e psicológicos do que no homem, frisou Santinho Martins.
Envelhecimento e "stress"
"Tenho esperança que dentro de cinco anos vamos ter mais medicação para a mulher, há substâncias em estudo", continuou o endocrinologista.
O sexólogo Allen Gomes traçou um cenário animador em que o ano do lançamento do Viagra como que encerra a hegemonia do homem na disciplina da sexologia e há indícios de que se está a entrar "nos anos das mulheres".
Os novos desafios da sexologia têm também a ver com a disfunção eréctil em homens mais velhos. Os técnicos registam a procura crescente nas consultas de sexologia de doentes crónicos, um sintoma de que o direito à saúde sexual chega a cada vez mais pessoas, reitera Santinho Martins.
O aumento da disfunção eréctil do homem é também sinal do envelhecimento da população, do aumento de hábitos tabágicos, do sedentarismo, do "stress" e de doenças cardiovasculares, enunciou Santinho Martins.
in Público
Por CATARINA GOMES
A prevalência de disfunções sexuais nas mulheres é maior que nos homens, mas a maioria dos medicamentos no mercado dirige-se aos problemas masculinos, concluiu anteontem em Lisboa o presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, António Santinho Martins, no último dia das jornadas que comemoram os 20 anos do organismo.
Cerca de 43 por cento das mulheres terão algum tipo de disfunção sexual (14 por cento ligada com a incapacidade de excitação), enquanto este valor nos homens se ficará pelos 31 por cento, indicou um estudo feito nos EUA pelo National Health and Social Live Survey e citado por Santinho Martins, médico endocrinologista no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, para referir que o problema é mais prevalente entre as mulheres.
A data, considerada histórica, do lançamento do Viagra no mercado mundial (1998) deu uma visibilidade à disfunção eréctil que o problema similar na mulher ainda não adquiriu, reiterou. "É o lado silencioso da questão", comentou Santinho Martins.
Mas o cenário parece estar a mudar, acrescentou, até porque a indústria farmacêutica se está a aperceber de que o mercado das mulheres é muito maior que o dos homem - só nos EUA estima-se que sejam 47 milhões de mulheres com disfunções sexuais, contra 31 milhões de homens.
O que acontece é que com os remédios existentes "é possível curar 90 por cento dos problemas dos homens e só cerca de 20 por cento dos das mulheres". A falta de desejo é a disfunção mais frequente na mulher e a sua melhoria por via farmacológica está muito pouco explorada; no homem, a perturbação mais comum é a disfunção eréctil e há mais soluções terapêuticas.
"Os medicamentos para a disfunção dos homens são mais do que satisfatórios, para as mulheres são mais do que insatisfatórios", concordou a psicóloga do Hospital Júlio de Matos Catarina Soares. Mas defendeu que nem tudo se resolve com "a medicamentalização da sexualidade", uma vez que a falta de resposta sexual feminina está mais condicionada por aspectos afectivos e sócio-culturais.
"Há um número significativo de disfunções sexuais sem problemas orgânicos. O estado de ignorância em relação à mulher é ainda grande", defendeu a psicóloga.
Há muito desconhecimento em torno "da fisiologia da excitação da mulher": o que se sabe é que a sexualidade feminina está muito mais ligada a aspectos afectivos e psicológicos do que no homem, frisou Santinho Martins.
Envelhecimento e "stress"
"Tenho esperança que dentro de cinco anos vamos ter mais medicação para a mulher, há substâncias em estudo", continuou o endocrinologista.
O sexólogo Allen Gomes traçou um cenário animador em que o ano do lançamento do Viagra como que encerra a hegemonia do homem na disciplina da sexologia e há indícios de que se está a entrar "nos anos das mulheres".
Os novos desafios da sexologia têm também a ver com a disfunção eréctil em homens mais velhos. Os técnicos registam a procura crescente nas consultas de sexologia de doentes crónicos, um sintoma de que o direito à saúde sexual chega a cada vez mais pessoas, reitera Santinho Martins.
O aumento da disfunção eréctil do homem é também sinal do envelhecimento da população, do aumento de hábitos tabágicos, do sedentarismo, do "stress" e de doenças cardiovasculares, enunciou Santinho Martins.
in Público
quarta-feira, novembro 10, 2004
o almoço
ontem fomos almoçar os três ao restaurante onde o meu pai vai todas as segundas. estes momentos combinam-se rapidamente com uma simples troca de emails, por isso não entendo a raridade da coisa. devíamos almoçar, pelo menos, uma vez por mês. faz-nos falta contar as histórias do dia-a-dia enquanto nos servimos de um pouco mais de arroz branco ou tiramos outra colher de caril. falamos sobre tudo e sobre nada, somos interrompidos pelos empregados do restaurante, também eles goeses, que perguntam pelo paizinho e nos desafiam a ir goa. já fui a goa duas vezes, explico-lhes: uma vez com os pais, outra vez sozinha. a conversa corre solta e, inevitavelmente, discorrem sobre as histórias do joão, do diogo, da madalena e da beatriz. creio que lhes disse que estou a pensar em engravidar para o próximo ano, depois das férias, ter um manelinho pequeno, redondo e falador. rapidamente, damos-nos conta que pedimos a mais mas o meu irmão descansa-nos. continua a comer e, enquanto come, limpa as gotas de suor que se formam pela testa, nariz, bochechas. só para nos impressionar, cobre as duas últimas garfadas de arroz e chouriço goês com um molho laranja vermelho, cheio de sementinhas, que escorre óleo, cheira bem, uma labaredazinha de fogo que torna a comida ainda mais escandalosamente picante. faz isso para nos impressionar, para nos ver a abrir a boca, para nos ouvir exclamar "ó roberto!", as mesmas expressões de há quinze anos, quando insistia em comer uma malagueta inteira. nunca percebi se ele fazia isso porque gostava mesmo ou se era apenas para nos gozar... no fim, depois de mastigar aqueles mini-pimentinhos verdes e vermelhos, olhava-nos divertido e dizia "tão bom! não queres experimentar?".
de raros que são, estes nossos almoços correm velozmente por entre o meio dia e meia e as duas horas. chegam ao fim depressa demais para meu gosto. nunca falamos sobre nós, das nossas tristezas, das nossas preocupações. não perguntamos se estamos bem ou mal, se temos algum problema, se queremos ajuda. não é preciso. sabemos tudo, ou quase tudo, uns dos outros. não é necessário perguntar ou dizer o que quer que seja porque somos irmãos, filhos do mesmo pai, criados pela mesma mãe e a mesma tia, nascidos no mesmo país, com vidas diferentes mas sempre paralelas, que se cruzam em casas, memórias e momentos.
sei, de experiência própria, que sou capaz de compreender e perdoar coisas nos meus irmãos que nunca vou conseguir entender e desculpar em quaisquer outras pessoas, por pior que isso seja. e a este sentimento irracional, incontornável, inigualável e absoluto se chama amor.
de raros que são, estes nossos almoços correm velozmente por entre o meio dia e meia e as duas horas. chegam ao fim depressa demais para meu gosto. nunca falamos sobre nós, das nossas tristezas, das nossas preocupações. não perguntamos se estamos bem ou mal, se temos algum problema, se queremos ajuda. não é preciso. sabemos tudo, ou quase tudo, uns dos outros. não é necessário perguntar ou dizer o que quer que seja porque somos irmãos, filhos do mesmo pai, criados pela mesma mãe e a mesma tia, nascidos no mesmo país, com vidas diferentes mas sempre paralelas, que se cruzam em casas, memórias e momentos.
sei, de experiência própria, que sou capaz de compreender e perdoar coisas nos meus irmãos que nunca vou conseguir entender e desculpar em quaisquer outras pessoas, por pior que isso seja. e a este sentimento irracional, incontornável, inigualável e absoluto se chama amor.
domingo, novembro 07, 2004
o pecado da gula
depois de passar um dia inteiro a comer castanhas assadas no forno (ontem), passo o dia seguinte (hoje) a agonizar entre cólicas, gases e idas repetinas à casa de banho.
(às vezes surpreendo-me com o fedor das minhas próprias bufas e, ainda mais, com os seus ruidosos efeitos sonoros. sim, cagar é humano... mas é muito pouco feminino.)
não sei como será para o próximo ano, mas uma coisa garanto: é a primeira e última vez que compro castanhas este inverno!
(às vezes surpreendo-me com o fedor das minhas próprias bufas e, ainda mais, com os seus ruidosos efeitos sonoros. sim, cagar é humano... mas é muito pouco feminino.)
não sei como será para o próximo ano, mas uma coisa garanto: é a primeira e última vez que compro castanhas este inverno!
quinta-feira, novembro 04, 2004
sexta-feira, outubro 29, 2004
o desconforto
vivo com o manel há dois anos. namoro há quatro. não conheço a mãe. não conheço o pai. não conheço o irmão mais velho, a cunhada, as duas sobrinhas e o sobrinho. não conheço a irmã mais nova, que anda no técnico. conheço um primo, duas primas e, casualmente, encontrámos a madrinha num hotel no algarve. não sei como é a casa onde viveu, não visualizo os caixotes onde repousam os seus livros ou as divisões onde a mãe lhe guarda a roupa. ignoro quantos cd's terá e tenho uma pálida ideia de como seria em menino.
por mais que me tente mentalizar que tudo isto é normal, que não significa nada, que durante estes anos os progressos foram imensos, impensáveis, praticamente quimeras, a verdade é que, em certos momentos, sinto desconforto, tristeza e solidão.
por mais que me tente mentalizar que tudo isto é normal, que não significa nada, que durante estes anos os progressos foram imensos, impensáveis, praticamente quimeras, a verdade é que, em certos momentos, sinto desconforto, tristeza e solidão.
quinta-feira, outubro 28, 2004
their vodafone
acabei de descobrir que o meu recente telemóvel (não, não se lhe pode aplicar o termo novo pois tem mais de um mês, já tive de lhe trocar a bateria e caiu várias vezes ao chão) pode ter toques de músicas do gilberto gil, dos tribalistas e do caetano veloso. fiquei em êxtase (como não podia deixar de ser) mas… onde estão as melodias do sérgio godinho, do fausto?? a melhor música portuguesa não tem direito a ser transformada em toque polifónico e ressoar pelos cafés e pelas ruas deste país? para meu espanto, os ignorantes da vodafone puseram a nelly furtado na secção das músicas portuguesas. a senhora só sabe dizer “força”, e a muito custo.
como forma de protesto, não colocarei qualquer tipo de toque polifónico português ou brasileiro! lá terei de meter o genérico do sexo e a cidade… (lentamente estou-me a tornar uma fã. é o que dá ter duas amigas que andam a comprar os dvd's da série) até aí falham: onde está a abelha maia ou o verão azul? a balada de hill street? o santo? os marretas? o genérico do conan ou das cidades de ouro (ah-ah-ah/ esteban, zia, tao et les cités d'our)? o duarte e companhia? o zé gato (quem és tu, zé gato/ o que é que te faz correr pelas ruas mais qualquer-coisa desta terra)? a árvore dos estapafúrdios? os amigos de gaspar?
os putos que fazem os toques polifónicos nunca devem ter visto o "agora escolha", muito menos o vasco granja a apresentar as animações checas e polacas... devem ter nascido na dáecada de 80... tristeza!
como forma de protesto, não colocarei qualquer tipo de toque polifónico português ou brasileiro! lá terei de meter o genérico do sexo e a cidade… (lentamente estou-me a tornar uma fã. é o que dá ter duas amigas que andam a comprar os dvd's da série) até aí falham: onde está a abelha maia ou o verão azul? a balada de hill street? o santo? os marretas? o genérico do conan ou das cidades de ouro (ah-ah-ah/ esteban, zia, tao et les cités d'our)? o duarte e companhia? o zé gato (quem és tu, zé gato/ o que é que te faz correr pelas ruas mais qualquer-coisa desta terra)? a árvore dos estapafúrdios? os amigos de gaspar?
os putos que fazem os toques polifónicos nunca devem ter visto o "agora escolha", muito menos o vasco granja a apresentar as animações checas e polacas... devem ter nascido na dáecada de 80... tristeza!
terça-feira, outubro 26, 2004
conversa entre uma portuguesa e uma brasileira sobre as férias da última no país da primeira
susana diz:
tens de comprar roupa
susana diz:
está um gelo em lisboa por volta dessa altura
janara diz:
como assim?
janara diz:
sério...
janara diz:
e não é melhor alugar aí casacos?
susana diz:
isso não existe
janara diz:
não
susana diz:
não!
susana diz:
nada...
janara diz:
pq?
janara diz:
Su...não posso levar um monte de roupas de frio...nem tenho!
tens de comprar roupa
susana diz:
está um gelo em lisboa por volta dessa altura
janara diz:
como assim?
janara diz:
sério...
janara diz:
e não é melhor alugar aí casacos?
susana diz:
isso não existe
janara diz:
não
susana diz:
não!
susana diz:
nada...
janara diz:
pq?
janara diz:
Su...não posso levar um monte de roupas de frio...nem tenho!
sexta-feira, outubro 22, 2004
terça-feira, outubro 19, 2004
ei-las, as manas
todas as nossas fotografias de infância são assim, desenquadradas, quase cortadas, ocupadas por um arbusto, uma rocha, o mar, a rua. aparecemos as duas, as suas filhas, é certo! mas não somos o centro da fotografia. parece-nos que a contextualização paisagística impunha-se, pelo menos para a nossa mãe.
esta é uma das nossas fotografias preferidas (acho que mal andava). são raras, fotografias com as manas...
segunda-feira, outubro 18, 2004
tenha santa paciência...
ele há coisas - merdas ! - que me deixam fodida... mesmo fodida!
o egoísmo e a estupidez de certas e determinadas pessoas que, ainda por cima, são minhas amigas.
o egoísmo e a estupidez de certas e determinadas pessoas que, ainda por cima, são minhas amigas.
domingo, outubro 17, 2004
como de um post sobre a possibilidade de integrar ernesto e alberto na lista de possíveis-nomes-para-os-meus-filhos passo para o pesadelo de darfur
sentir-me-ia estúpida, ridícula se, depois de ter lido este artigo, viesse para aqui por-me a divagar sobre nomes, apelidos e alcunhas.
é longo, este artigo. não sei sequer se será imparcial e objectivo, mas acredito que quem o escreveu experienciou um pouco deste pesadelo-realidade que o mundo insiste em querer ignorar.
Darfur Epitáfio para Dois Milhões de Vivos
Paulo Moura
in Pública
17 de Outubro de 2004
é longo, este artigo. não sei sequer se será imparcial e objectivo, mas acredito que quem o escreveu experienciou um pouco deste pesadelo-realidade que o mundo insiste em querer ignorar.
Darfur Epitáfio para Dois Milhões de Vivos
Paulo Moura
Um homem alto, velho e esguio representa um estranho número para um grupo muito interessado de espectadores reunidos à sua volta. Gesticula, salta e grita furiosamente, enquanto vai colocando, em várias posições diferentes, quatro tijolos no chão. Isto é Nyala, capital do Darfur do Sul. As ruas, uma confusão. Em terra batida, cheias de buracos. Lixo. Poeira. As mulheres com os tops de uma peça só, vermelhos, verdes, amarelos ou às flores, numa babilónia de códigos tribais, de recados tácitos no seu silêncio, que todos compreendem, ou ninguém compreende. Hadari, Tarjan, Rizaigat, Masalit, Zagawa, Fur, tribos árabes e africanas, todos juntos nas ruas, na confusão, os aliados, os rivais, o irmãos, os contendores, as vítimas, os assassinos. Isto é Nyala. Todos no bazar a céu aberto.
Os homens de túnica branca, a jalabia tradicional sudanesa, na versão com botões ou lisa, o mahdi. Com as calças interiores, o seroal, e o barretinho branco bordado, o taghia, ou turbante, o imma, no caso de terem mais poder, ou mesmo a assaia, a bengala, se tiverem uma posição proeminente na hierarquia da tribo. Nesse caso poderão ainda usar sapatos de leopardo, ou de cobra, a assala, uma serpente gigantesca por temor da qual, diz a sabedoria popular, qualquer um que tenha de dormir na floresta o deva fazer de braços e pernas bem abertos, para não ser facilmente engolido durante a noite...
A alguns metros, as pessoas confundem-se com a poeira. A poeira mistura-se com os cheiros, os aromas quentes e inesperados das mezinhas e tisanas que invadem os mercados da rua. Das frutas, os fritos, o peixe seco, a carne podre.
Da ferrugem seca, da borracha queimada. Ao lado da "bomba de gasolina" feita de bidões, a feira de peças velhas de automóvel, amontoadas no chão, a fumegar, indistintas na sua sinistra amálgama, como os despojos de uma catástrofe. O ferro-velho mistura-se com a comida, as bagas, as folhas, os óleos, o carvão, a roupa, os freios dos camelos, as albardas dos burros, o lixo. Isto é Nyala. Montanhas de lixo, nuvens de lixo, tempestades de lixo. O lixo mistura-se com as pessoas. As pessoas confundem-se com o lixo. Quase não há casas, tudo acontece ao ar livre, e quase não há carros, o tráfego é constituído por pequenos riquexós motorizados, cavalos e burros, a maioria puxando uma carroça, algumas com sistema de som, canções árabes aos berros pela rua abaixo.
As "lojas" são improvisadas, não mais do que uma banca, uns panos, uns caixotes. Montam-se e desmontam-se, mudam de sítio. Dá a impressão de que toda a cidade se poderia desarmar em meia-hora, deixando apenas o lixo, e que nesse total desaparecimento não estaria implícita uma grande mudança na paisagem.
Não obstante, a cidade está viva. Estranhamente viva. Multidões acotovelam-se nos bazares labirínticos, de tendas esfarrapadas, junto às bancas onde se vendem punhais e catanas, pelos mercados de livros espalhados no chão, a perder de vista, como um lençol branco e ondulante, as páginas a esvoaçarem, finas, escritas em árabe, quase transparentes, num rumorejar de papel de arroz, de penas. Ou à volta do homem que inventa mil e uma maneiras de dispor quatro tijolos.
Tem um enorme saco de pano branco cheio de areia, que atira de um lado para o outro, e assenta entre os tijolos. Parece estar zangado, impaciente. Está a vender alguma coisa? A fazer propaganda? A evangelizar?
"Está a ensinar", diz-nos em ingês um jovem de bigode e camisa branca impecável. "A ensinar a sepultar os mortos, segundo o Islão. As pessoas não sabem ou, com a pressa, colocam os corpos com a orientação errada".
É uma lição de ciência funerária. "Ele está a dizer que não é por se sepultarem os mortos à pressa ou em grandes quantidades que se pode fazê-lo de maneira imprópria", traduz o jovem, sem compreender por que razão alguém sepultaria um familiar à pressa.
"Chamo-me Mortada", apresenta-se ele. "Cheguei ontem de Cartum, onde vivo. Disseram-me que no Darfur poderia encontrar trabalho. Sabe de alguém que tenha um emprego para mim?"
Mortada destoa completamente no cenário circundante. Não só por usar calças e camisa e por estar limpo. Também e acima de tudo pela sua expressão cortês, de executivo diligente e atarefado. "Estou a juntar dinheiro para emigrar para o Canadá". Abre a "pasta" preta que traz consigo, nada menos do que a capa do menu de um restaurante de hotel, para mostrar os recibos de centenas de dólares que já pagou, durante quatro anos, a uma duvidosa empresa sudano-canadense que lhe prometeu um visto. "Preciso de trabalhar, para pagar todas as despesas. Espero, no prazo de um ano, estar no Canadá".
Empregamo-lo como tradutor. Após uma breve conversa sobre as entrevistas que faremos e os locais que visitaremos, Mortada tem lágrimas nos olhos. Nunca ouvira falar da crise humanitária do Darfur.
Ávido de desempenhar competentemente a sua tarefa, quer aprender a soletrar correctamente algum vocabulário de que irá necessitar. Abre a sua capa profissional onde se lê, a dourado, "Hotel Palace". No topo da única folha em branco que tem no interior escreve em inglês, em maiúsculas: "GENOCÍDIO, VIOLAÇÂO, LIMPEZA ÉTNICA"
Partimos de Nyala, rumo aos Campos de Deslocados. Segundo a ONU, são muitas centenas, espalhados por todo o território do Darfur. Ao todo, quase dois milhões de pessoas fugiram das suas aldeias e estão em perigo de vida, por falta de comida e medicamentos. Fugiram, segundo as autoridades, por causa da guerra lançada pelos rebeldes, do Movimento de Libertação do Sudão (SLM) e do Movimento para a Justiça e Equidade (JEM), que combatem as forças governamentais, com o objectivo de conquistarem o poder. Foi esta a tese que Mortada ouviu na televisão, em Cartum.
Nos arredores de Nyala, há aldeias habitadas, com mulheres e crianças à volta das pequenas casas redondas, com telhados de palha e paredes feitas com uma amálgama de lama, fezes de burro e palha. À medida que o carro avança aos solavancos pelos trilhos, entramos numa mata selvagem, de vegetação rasteira mas densa, a chamada savana pobre, que caracteriza as regiões a Sul do deserto do Sara.
Num lago fétido, formado pelas chuvas repentinas dos últimos dias, meninos tomam banho nus. Mulheres avançam pelos caminhos, com pilhas de lenha à cabeça.
Mas ao afastarmo-nos escassos quilómetros da cidade, a paisagem muda. Todas as aldeias estão vazias. Algumas destruídas. Pássaros de enormes bicos curvos ou plumas de cores bizarras ocuparam as carcaças das cubatas, lançando gritos estridentes na savana devolvida ao estado primitivo. A atmosfera tem o assombro de uma fábula. Sentimo-nos intrusos. Tudo palpita e cintila, como se na selecção natural todas as espécies vivas - excepto uma - tivessem uma história de sucesso para contar. Excepto a nossa.
Os seres humanos só voltam a habitar a paisagem nas imediações de Oteich, um dos Campos de Deslocados, onde se refugiam cerca de 18 mil pessoas. Antes de entrarmos, cruzamo-nos com algumas mulheres a carregar lenha, com burros e vacas muito magros, bandos de crianças a gritar "ok, ok, ok", correndo atrás do carro onde viram um estrangeiro. Mas a maioria não sai do perímetro do campo. Fora dali ninguém lhes garante a segurança, explicam. E ali também não. Mas tinham de refugiar-se em algum lugar. As cerca de dez mil cabanas, a que chamam "burmas" aglomeram-se a menos de um palmo umas das outras, construídas com ramos e plásticos, ao ritmo do próprio medo.
"Eu vim a pé, da aldeia de Bolbula, com os meus quatro filhos. O mais velho foi morto. Também mataram os meus pais e os meus quatro irmãos. O meu marido desapareceu, não sei se está vivo ou morto", conta Mariam Isak Ahmed, num relato angustiado idêntico aos que viríamos a ouvir centenas de vezes. "De madrugada, um avião bombardeou a aldeia. Destruiu a maior parte das casas, matou muita gente. Logo a seguir, atacaram os janjawid, uns 30 ou 40, montados em camelos e cavalos, armados com espadas e metralhadoras". A história do costume, repetida até à vertigem, até à náusea, até à banalidade. A história do Darfur. "Começaram a matar todos os homens. Vi violarem algumas mulheres. Lançaram fogo à aldeia. Quem pôde, fugiu. Dispersámo-nos. Nunca mais vi o meu marido".
Outra mulher, Mariam Jacob, 19 anos, tem ao colo um bebé de 18 meses, Abdelmajid Josef. "Eles chegaram de manhã. Mataram os meus pais e os meus irmãos. Incendiaram a aldeia. Roubaram tudo. Eu fugi, mas tenho muito medo. Eles estão aqui", diz ela, referindo-se aos polícias que guardam o campo. Dir-se-ia que contraíu uma paranóia de perseguição, que está louca. O minúsculo e ressequido Abdelmajid chora ininterruptamente. "Não tenho leite, a mama secou. Onde vou encontrar comida para ele?" Mariam diz isto com a voz a tremer. "Onde vou encontrar comida?"
Um homem de 36 anos, Amin Josef Abderazik, conta como dos seus sete filhos só um sobreviveu. "Já era costume os árabes virem assaltar a nossa aldeia, Kidi Nir. Mas a Polícia protegia-nos como podia. Desde há seis meses, as coisas pioraram. A Polícia saiu da região, deixando-nos à mercê dos janjawid". Abderazik era um agricultor abastado. Tinha cavalos e um tractor, cultivava goma arábica, sorgo, cebolas e tomates. Perdeu tudo. Os janjawid (palavra que, em árabe, significa "demónios a cavalo" ou "cavaleiros do Inferno") atacaram a aldeia há três meses. "Foi óbviamente tudo concertado. Primeiro surgiram aviões e helicópteros, das Forças Armadas sudanesas. Largaram três bombas, que destruíram cinco casas e a escola. Logo a seguir vieram os janjawid, em cavalos e camelos, armados com metralhadoras kalashnikov e GM3. Alguns vestiam camuflados, outros uniformes do Exército sudanês. Cercaram a aldeia, e incendiaram o que restava dela. Começaram a matar indiscriminadamente. Assassinaram 250 pessoas. Roubaram tudo, gado e comida. Não podíamos defender-nos, só os árabes têm armas. Fugimos. Mais de cem pessoas. Viemos todos juntos, até aqui".
Abderazik admite que simpatiza com o SLM, um dos grupos rebeldes. "Eles estão armados, podem proteger-nos. Defendem os africanos". Mas garante que não havia nenhum guerrilheiro na aldeia.
Uma mulher, Assida, veio há quatro meses, de Doggi, nas montanhas do leste. Foi a primeira a chegar a Oteich. Os janjawid mataram-lhe o marido e o filho, ela fugiu, com mais 14 raparigas. "Não havia nada aqui. Mas depois chegou o WFP (Programa Alimentar Mundial). Durante alguns meses, distribuíram comida. Agora há gente a mais, a maioria não tem senhas, que já não são distribuídas. A maioria passa fome. Hoje, por exemplo, ainda ninguém comeu nada".
Ao princípio, os refugiados falavam a medo, constrangidos pela presença dos seguranças do Campo, receosos de que os seus relatos lhes custassem punições, represálias. Mas agora, encorajados pela coragem dos primeiros, todos querem falar. Juntam-se à nossa volta em chusma, gritam, discutem, quase lutam para que lhes seja dada a vez, indiferentes ao facto de, como muitos descreveram, alguns dos janjawid que os atacaram estarem agora ali a guardar o Campo, entretanto convertidos em polícias.
Todos querem narrar o seu caso pessoal, sem se aperceberem de que é igual aos outros. Todos querem falar da fome e das doenças.
Uma mulher, Hawha Ahmed, de 25 anos, exibe os olhos amarelos dos três filhos. Outra traz o marido que está a morrer de diarreia. Outra ainda mostra a bebé que traz ao colo, Rogaia Abaker, de 18 meses, a cabeça coberta com um pano. "Foi às dez da noite que os janjawid chegaram a Bakhit. Começaram a matar as pessoas, o meu marido desapareceu, deve ter morrido. Depois incendiaram as casas. A Rogaia ficou ferida no fogo". E neste momento a mulher faz algo de terrível. Lentamente, sem por um único momento olhar para a filha, descobre-lhe a cabeça. É impossível conter um grito de horror. Rogaia tem o cérebro exposto. O crânio aberto, os miolos a palpitarem no calor insuportável do Darfur, róseos e húmidos, debruados de veias, lavrados de membranas. Uma menina viva com o cérebro nu.
"Foi ao médico?", perguntamos, mas já tudo está distante, já o Campo de Oteich se transformou no cenário de um pesadelo difuso, demente, incompreensível. "Porque não vai ao médico?" Um cenário desumano. Cada vez mais grotesco e cada vez mais natural aos nossos olhos. O absurdo é embriagante. Já nada surpreende. Isto é o Darfur. Como sob o efeito de um narcótico, ouvimos mais histórias de horror. Vemos mais doentes, mais feridos. Uma mulher conta-nos como a prima foi violada, na aldeia de Aluf. Insiste em levar-nos até ela, para ouvirmos o relato em primeira mão. Entramos numa burma com Amuna Abelrahman, uma rapariga alta e atraente, de 20 anos. Estão presentes apenas a prima e o líder tribal, mas lá fora aglomera-se uma multidão, sedenta dos pormenores da violação. Todos sabem o que aconteceu a Amuna e a outras 25 mulheres da aldeia. Todos conhecem de cor as práticas dos janjawid, mas nem por isso deixam de votar as violadas ao opróbio e ao ostracismo.
"Eu e a minha prima andávamos a apanhar lenha, perto da aldeia, à tarde", conta Amuna, sem levantar os olhos, desenhando quadrados no chão, com um dedo. Mortada vai traduzindo, num sussurro. "Eram cinco horas. Eles chegaram, cinco homens a cavalo, com kalashnikovs. Apearam-se, correram atrás de nós. Fugimos, mas eu caí, e apanharam-me. Dois deles ficaram a agarrar-me os pés e as mãos, os outros três fizeram sexo comigo". Amuna cala-se. Gotículas de suor formaram-se por todo o seu rosto escuro e suave. A prima continua, a chorar: "Os janjawid fugiram, ela ficou no chão, inconsciente. Fui lá buscá-la, com alguns vizinhos. Trouxemo-la de burro para a aldeia. Ficou três meses no hospital. Por sorte não engravidou". O pai de Amuna morreu, de desgosto e vergonha e um primo mais velho, que já tinha três mulheres, casou com ela, para não ficar sozinha.
Ouvimos mais histórias, vemos mais crianças doentes, ou feridas, muitas sem terem recebido qualquer tratamento, apesar de haver uma clínica no Campo. A mãe de Rogaia diz que foi ao médico, mas é evidente que está a mentir. O cérebro da menina não apresenta nenhuma espécie de curativo.
"A maior parte dos doentes tem malária, febres, vómitos ou diarreias. Muitos deles ferimentos, que se tornaram graves por terem ficado meses sem tratamento", explica-nos Badaoui Jaffar, um dos dois médicos, voluntário sudanês. A sala de espera da tenda que constitui a clínica está repleta de doentes, alguns deitados no chão, de olhos fechados. Uma menina de 9 anos está a ser tratada. Tem uma ferida enorme e horrível abrangendo o pé e parte da perna. "Foi uma bala, dos janjawid, há duas semanas", explica a mãe. Só hoje foi tratada. O médico não consegue afastar os milhares de moscas da ferida aberta. Mariam diz que lhe dói muito, porque lho perguntamos, mas não chora.
"Quase todas estas doenças seriam facilmente curáveis", diz o médico. "Mas faltam-nos os meios básicos. Há cada vez mais refugiados que chegam, muitos não vêm ao médico, não se sabe porquê. Certas pessoas andam meses com feridas profundas. Quando as vemos, é demasiado tarde. Não temos forma de fazer um levantamento dos problemas de saúde. Só aqui vem quem quer".
Visitamos outros Campos, Kalma, o maior de todos, com mais de 85 mil refugiados, Asseref, com mais de 70 mil. Aqui, pelo menos cinco mil pessoas chegaram demasiado tarde para receberem as senhas de comida do WFP, e estão a morrer à fome. Outros tantos de doenças. A atmosfera está carregada de desespero, de terror. Ao contrário de Kalma, neste Campo não há uma administração oficial, nem polícia. Os janjawid andam nas imediações e atacam quem se aventure a ir apanhar lenha, ou, durante a noite, no próprio campo, que é liderado por um chefe tribal. Morrem umas dez pessoas por dia, diz ele, que mantém uma lista actualizada de toda a população. "Mas ontem chegaram dez, e anteontem 20..."
Amar Gedit chegou com os filhos durante a noite. Os janjawid mataram-lhe o marido em Dresa, uma aldeia a 20 quilómetros daqui, há dois dias. Outra mulher diz ser a única sobrevivente de uma família de dez pessoas, outra queixa-se de que não come há uma semana, outra de que tem o marido e os filhos doentes. Há cada vez mais gente à nossa volta, num coro de histórias macabras e queixumes. As pessoas falam todas ao mesmo tempo, gritam, apertam o círculo. "Eles vieram à meia-noite, a cavalo..." "Antes só roubavam, agora matam..." "Os aviões lançaram bombas, depois os janjawid cercaram-nos..." "mataram sete pessoas da minha família..." "Roubaram tudo, levaram as vacas, queimaram as colheitas..." "Mataram o meu irmão..." "Mataram o meu filho..."
A temperatura é de quase 50 graus. O cheiro insuportável. Não se consegue respirar. Mortada berra, empurra, mas não consegue impor a ordem. Logramos furar por entre a turba alucinada e infecta, fugir, mas perseguem-nos, aglomeram-se de novo à nossa volta. Agora sim, começam a organizar-se: atiram para a frente os que têm histórias mais horrendas, e os mais doentes. Uma mulher de 40 anos, Fatma Adam, conta: "O meu filho correu atrás das vacas, que estavam a ser roubadas, e um janjawid apanhou-o. Enterrou-lhe uma lança na boca, uma lança comprida, como as que eles usam, uma arba. Enterrou-a com toda a força na boca do meu filho, até lhe sair pelas costas".
Asha Isa, 24 anos, mostra-nos o filho doente. Tem dores de estômago e diarreia e a cara empapada em lágrimas e moscas, que a mãe já se cansou de sacudir. Não foi ao médico porque há demasiadas pessoas à espera, diz ela. Abdelcrim Suleiman, 40 anos, exibe os dez filhos, todos doentes, com diarreia e febre. O marido tem malária. Zarha Moussa Ali, 36 anos empurra para a frente o filho de quatro anos, que tem diarreia e os olhos amarelos e acaba por cair aos seus pés, sem forças. Rasha Adam Ateib, 25 anos, está grávida de nove meses. Os janjawid cercaram a sua aldeia, Cornei, depois do ataque aéreo, de nove bombas. "Incendiaram as casas e ficaram à espera que saíssemos, para depois dispararem sobre as pessoas em fuga. Quase toda a gente morreu, incluindo o meu marido. Eu vi, um a um. Fugi sozinha".
Rasha não tem senhas de comida, nem conhece ninguém. Não sabe o que fará quando nascer Mohamed, ou Mariam, se for menina.
Mortada decide alertar as médicas do Campo, quando falarmos com elas. Para que procurem Rasha e assistam o parto. Mas esquece-se.
Chegamos a Nyala com muitos nomes a ecoar na cabeça - Mariam, Asha, Fatma, Kaltum, Amuna, Rasha, Rogaia - mas uma só história, mil vezes repetida.
Para desespero de Mortada, a realidade é inequívoca: as milícias armadas das tribos árabes, os janjawid, estão a actuar em coordenação com as forças governamentais sudanesas com o objectivo de exterminar parte da população das tribos africanas do Darfur. Todos os refugiados dos Campos pertencem a tribos "africanas" - Fur (Darfur significa "terra dos Fur"), Zagawa, Masalit. E todos os janjawid, segundo os testemunhos, pertencem a tribos "árabes" - Hadari, Rizagat, Tarjan. A guerrilha rebelde nasceu no seio das populações "africanas", numa contestação contra o Governo central de Cartum, dominado pelos "árabes", e o abandono a que foi votada a região e as populações "africanas". Estas, por sua vez, apoiam, de forma evidente, a rebelião, pelo que o Governo optou por atacar o mal pela raiz: exterminar os "africanos", ou pelo menos confiná-los a "campos de concentração" onde as suas actividades possam ser vigiadas. Como não conseguia fazê-lo sozinho, uma vez que a maioria dos soldados é de origem "africana", pediu ajuda aos chefes tribais "árabes", usando a seu favor a rivalidade ancestral entre os dois grupos étnicos. Rivalidade baseada mais nas quesílias endémicas entre pastores nómadas e agricultores sedentários do que na etnia propriamente dita, já que árabes e africanos há muito que se miscigenaram no Darfur, têm a mesma religião - o islão - e falam a mesma língua, o árabe.
Os "gangs" de árabes nómadas, montados em cavalos e camelos, armados de espadas e lanças, que atacam as aldeias para roubar gado e colheitas são uma tradição imemorial no país. A novidade é que agora têm metralhadoras e são apoiados por bombardeamentos aéreos.
"Não posso acreditar que o nosso Governo está a matar as pessoas. Em Cartum, ninguém sabe isto". Nem mesmo a Mortada, cuja vida mudaria para sempre com esta descoberta, resta qualquer dúvida.
O que está por explicar é por que razão as pessoas não vão ao médico. Simone Niederastroth, uma das duas médicas alemãs de Asseref, tinha-nos contado que tratam umas 200 pessoas por dia, principalmente de malária, infecções gástricas e de pele, otites e feridas infectadas. Mas que poderiam tratar mais, assim elas aparecessem na clínica. E que a situação é tanto mais grave quanto é quase certo, se os cuidados médicos não se intensificarem nos próximos meses, o surgimento de epidemias que matarão milhares de pessoas.
A explicação surgiria inesperadamente num dos mercados de Nyala, através de uma personagem burlesca e intrigante que se apresentou como Achir Ahmed Al-Baferi, iemenita, feiticeiro. Barba grisalha comprida em bico, óculos de espelho, dentes de ouro, chapéu mexicano sobre um barrete de renda, túnica branca, lenço às riscas e um Corão, Al-Baferi é um homem que não passa despercebido. Compreende-se que parte da sua autoridade lhe advém do "look" radical, que cultiva com grande competência. "Curo todo o tipo de doenças psicológicas, a maior parte das malárias e mais de 30 espécies de cancro, com o recurso exclusivo a plantas e rezas", declara. E oferece-se para uma visita guiada ao mercado.
Nada é o que parecia. Com as explicações do feiticeiro, enquanto caminhamos entre as bancas e os produtos expostos no chão, a cidade transforma-se num mundo mágico. "Isto é gorinjan, cujo chá cura os males intestinais", ensina, apontando para um cesto de raízes secas. "Esta pasta verde é chamarr, que dá sabor à comida e faz baixar a febre. Esta casca de árvore chama-se girfa e é óptima para as infecções cutâneas. Isto parece favas pretas mas é haradip, o principal remédio contra a malária. Carcadê faz baixar a tensão arterial, godem é bom para quem não tem sangue suficiente, tubeldi põe-se em água até fazer papa e cura a prisão de ventre".
Al-Baferi pára junto a uma banca que vende "produtos para as senhoras". Dicka, um pó avermelhado para tornar a pele mais macia. Khombra, um óleo aromático para fazer uma mulher irresistível. Só para casadas. Chaf... é melhor ser a vendedora a explicar as propriedades dos pauzinhos semelhantes a canela, sugere o iemenita.
"Bem, há aquelas moças que já foram um pouco... usadas. Ou que tiveram um filho...", começa a vendedora gorda, com ar malandro. "Faz-se uma fogueirinha com chaf, até deitar muito fumo. Então a mulher que tem o problema despe-se da cintura para baixo e senta-se assim..." Exemplifica, pondo-se de cócoras sobre os pauzinhos. "Este fumo especial trabalha-lhe aqui as partes, deixando tudo apertadinho de novo..."
Al-Baferi vai apoiando com a cabeça, com toda a autoridade que manifestamente lhe reconhecem. É claro que no Darfur ninguém tem o hábito de consultar médicos. É natural que olhem com desconfiança os voluntários estrangeiros que trabalham nos Campos de Deslocados.
Al-Baferi, que vive nas montanhas e só desceu ao povoado para comprar algumas raizes, diz que está a elaborar, para entregar à ONU, um completo relatório. Um trabalho de pesquisa com soluções para a crise humanitária - à base de chás que curam todas as doenças, especialmente a loucura - e para a crise política.
Neste capítulo, só há um remédio: usar os líderes tribais. "Só a eles as pessoas ouvem e obedecem. Não aos políticos ou aos estrangeiros. O Governo deve reunir os chefes das tribos, que representam o povo".
Em Cartum, Musa Hilal, considerado o líder de todos os janjawid do Darfur, indicara-nos os nomes de dois chefes tribais árabes na região de Nyala - Mohd Jakob Elomba, chefe dos targem, e Abdalah Abunova, dirigente máximo dos mahria. Tentar encontrá-los em Nyala não é tarefa fácil. À simples menção dos seus nomes, a maior parte das pessoas cala-se, ou foge. "Eles são os chefes dos janjawid", disse-nos um vendedor. "São homens muito perigosos. Não contem a ninguém que vos disse isto".
Depois de muita investigação, com a ajuda do chefe da polícia e do juiz, ambos "árabes", encontrámos a casa de uma das quatro mulheres de Elomba, Hawah Shahta. Mas o único vestígio do grande chefe é o seu cavalo, o Arkalzal (Terramoto). Elomba partiu de jipe para a aldeia de Bulbul, onde tem outra esposa, para resolver um conflito tribal precisamente com o seu amigo Abunoba.
O autocarro para Bulbul é um indiscritível monte de sucata ferrugenta com os vidros partidos, embora todo forrado, por dentro, a veludo vermelho e berloques. Os passageiros têm de sair e empurrar, para que o motor pegue, mas depois avança aos pinotes pelos trilhos como se fosse um todo-o-terreno. O sol está a por-se na savana pobre. Surgem as primeiras aldeias, todas arrasadas. A seguir, bandos de nómadas, em camelos. Numa paragem entra um homem que declara não ter dinheiro para o bilhete. "Não tens mesmo? Então podes vir", diz o condutor. Mortada aproveita para explicar as tradições sudanesas de entreajuda. Nafir, é quando alguém precisa, por exemplo, de construir uma casa, e todos ajudam. Faza, é quando alguém morre e todos correm para apoiar, dar consolo", vai dizendo, enquanto passamos por casas incendiadas e crateras de bombas.
Chegamos a Bulbul. A aldeia está pejada de homens de camuflado e metralhadoras, sinal de que os líderes janjawid estão por perto. Dois dos guardas aproximam-se e Mortada estende-lhes o papel que retira da capa do menu do Hotel Palace e onde escrevera os nomes dos dois líderes. O homem da kalashnikov começa a ler com todo o vagar e... Maldição! No topo da folha pode ler-se, em maiúsculas "GENOCÍDIO, VIOLAÇÂO, LIMPEZA ÉTNICA". É tarde de mais para lhe tirar o papel. Ele não o larga mais. Faz-nos sinal para o seguirmos.
Junto a um grande toldo feito de ramos, um abrigo de nómadas, não longe de várias casas com paredes de bosta e erva, estão três jipes, dezenas de guardas armados e os dois chefes, com os seus séquitos. Já foram avisados da nossa chegada e preparam-se para a entrevista.
"É uma grande honra que um irmão jornalista português tenha vindo de tão longe para descobrir a verdade sobre o Darfur", diz Abunoba, um homem com 1,90m, de jalabia branca imaculada e sapatos de leopardo. Uma bengala, um relógio de ouro e uma pasta de executivo completam a indumentária que, juntamente com o colega Elomba, os distinguem dos outros.
Sentamo-nos num tapete e Abunoba começa a dissertar sobre as origens da crise na região. "A ONU e os americanos falam de genocício, mas isso não é verdade. Há um conflito normal entre dois tipos de sociedade: a dos pastores e a dos agricultores. Dantes, estes conflitos eram resolvidos pelos líderes tribais, com os seus tribunais e a sua lei, que se chama Orf. O que se passa agora é que houve um aproveitamento político destes conflitos. Os rebeldes do SLA começaram a atacar os nómadas, a roubar, e a convencer os africanos de que é preciso lutar contra os árabes e o Governo".
Cai a noite, chega a hora da oração. Alguém grita "Alá uh Akbar!" Abunoba pede desculpa por interromper a entrevista e todos se prostram voltados para Meca, as jalabias brancas como que acesas pelo luar intenso.
Jantamos, grandes pedaços de carneiro com molho de sorgo, e continuamos a conversa pela noite dentro. Abunova e Elomba mostram as espadas (jafir) e os punhais que usam, quando viajam a cavalo. As lanças enormes (harba) iguais à que matou o filho de Fatma. Contam como as suas tribos vieram da Arábia, criticam as acções dos americanos, a guerra do Iraque, as mentiras da ONU e a campanhas de propaganda dos rebeldes, explicam como funciona a lei Orf, os julgamentos, as multas, os acordos entre chefes, como os líderes tradicionais são eleitos pela população, como se articula o seu poder com o da administração oficial e também como isso se alterou lentamente ao longo da História e, subitamente, nos últimos meses.
Com efeito, os últimos Governos do país foram retirando prerrogativas ao líderes tribais. Impotente para resolver a actual crise, no entanto, Cartum pediu ajuda aos chefes tradicionais. Ajuda militar, em troca de mais poder político, administrativo e judicial. Um chefe tribal podia por exemplo, explica Elomba, condenar criminosos em penas até 4 anos, sem recurso a um tribunal estatal. A partir deste ano, esse limite passou a ser de 7 anos. "O Governo deu-nos esse direito, para enfrentar os novos eventos".
Depois convidam-nos a dormir ali, para que no dia seguinte possamos assistir a julgamentos e visitar as aldeias vizinhas, constatando como árabes e africanos vivem em harmonia. Aceitamos. Dormimos ao relento, com os assassinos, a ouvir os burros, as vacas, os cães, os pássaros, os mosquitos, e a sonhar com o filho de Fatma, empalado numa lança, e o de Rasha, que ia nascer para a morte, com Amuna, violada pelos janjawid, e o cérebro exposto da menina queimada, o cérebro viscoso, repelente, a funcionar, a pensar, e cérebro maravilhoso de Rogaia.
De manhã cedo começam os julgamentos. Um homem queixa-se de que um camelo lhe estragou as culturas. Depois de uma longa conversa entre os chefes das respectivas tribos, o culpado é condenado a uma pesada multa. Uma rapariga apedrejou um camelo; um homem armou uma zaragata. Resolvidos todos os crimes, saímos em missão. Quatro jipes em caravana, com os chefes e os guardas armados. Objectivo: aldeia de Brambram, onde há um mercado. Até lá, passamos por muitas manadas de vacas e varas de camelos, a pastar nas terras que estiveram cultivadas. Passamos por várias aldeias, todas vazias, algumas destruídas. Que aconteceu aqui? "Ouviram dizer que havia guerra, fugiram para os Campos de Deslocados", é a resposta. E ninguém mais toca no assunto. Todas são aldeias Fur, a maior tribo africana.
Mortada tem um olhar desesperado. Transformou-se noutro homem, em poucos dias. Já esqueceu o Canadá, quer ficar, para ajudar o seu povo, promete. De vez em quando, num murmúrio surdo, fala de Rasha, a grávida de Asseref. "Esqueci-me de dizer às médicas. Provavelmente o bebé morreu, e ela também, por minha causa".
Chegamos a Brambram. Os chefes Fur vêm receber-nos, cheios de deferência. Um enorme bode é morto ali mesmo, à punhalada, para oferecer de repasto aos visitantes. Elomba e Abunova, as jalabias imaculadas a contrastar grotescamente com os trapos imundos dos chefes africanos, sentam-se numa manta. Perguntam se há algum problema para resolverem. A resposta é não. Está tudo bem. Depois esperam que façamos a visita à aldeia.
Mal os vêem pelas costas, os chefes Fur desatam a contar tudo. São atacados por janjawid quase todos os dias, que os exortam a partir, com ameaças. Muitos homens foram mortos, mulheres violadas. A maioria da população já fugiu. No mercado não se vende nada, porque ninguém tem coragem de cultivar. As terras foram ocupadas pelos árabes.
Mostram-nos a escola fazia, sem professor há vários anos. A guarita onde havia polícias, também vazia. "Agora são eles que mandam", dizem, apontando na direcção de Elomba e Abunoba. "Estamos à mercê deles. Mandam os janjawid se desobedecermos. Têm um campo de treino aqui perto, em Taisha".
Terminada a visita, os líderes árabes devoram o bode, perante os olhares famintos de dezenas de crianças. No fim, quando só restam ossos, são autorizadas a servir-se. Isto é o Darfur. A harmonia entre árabes e africanos.
Mortada tem um olhar ausente, dir-se-ia estar louco. "Provavelmente o bebé morreu"... balbucia.
Os homens de túnica branca, a jalabia tradicional sudanesa, na versão com botões ou lisa, o mahdi. Com as calças interiores, o seroal, e o barretinho branco bordado, o taghia, ou turbante, o imma, no caso de terem mais poder, ou mesmo a assaia, a bengala, se tiverem uma posição proeminente na hierarquia da tribo. Nesse caso poderão ainda usar sapatos de leopardo, ou de cobra, a assala, uma serpente gigantesca por temor da qual, diz a sabedoria popular, qualquer um que tenha de dormir na floresta o deva fazer de braços e pernas bem abertos, para não ser facilmente engolido durante a noite...
A alguns metros, as pessoas confundem-se com a poeira. A poeira mistura-se com os cheiros, os aromas quentes e inesperados das mezinhas e tisanas que invadem os mercados da rua. Das frutas, os fritos, o peixe seco, a carne podre.
Da ferrugem seca, da borracha queimada. Ao lado da "bomba de gasolina" feita de bidões, a feira de peças velhas de automóvel, amontoadas no chão, a fumegar, indistintas na sua sinistra amálgama, como os despojos de uma catástrofe. O ferro-velho mistura-se com a comida, as bagas, as folhas, os óleos, o carvão, a roupa, os freios dos camelos, as albardas dos burros, o lixo. Isto é Nyala. Montanhas de lixo, nuvens de lixo, tempestades de lixo. O lixo mistura-se com as pessoas. As pessoas confundem-se com o lixo. Quase não há casas, tudo acontece ao ar livre, e quase não há carros, o tráfego é constituído por pequenos riquexós motorizados, cavalos e burros, a maioria puxando uma carroça, algumas com sistema de som, canções árabes aos berros pela rua abaixo.
As "lojas" são improvisadas, não mais do que uma banca, uns panos, uns caixotes. Montam-se e desmontam-se, mudam de sítio. Dá a impressão de que toda a cidade se poderia desarmar em meia-hora, deixando apenas o lixo, e que nesse total desaparecimento não estaria implícita uma grande mudança na paisagem.
Não obstante, a cidade está viva. Estranhamente viva. Multidões acotovelam-se nos bazares labirínticos, de tendas esfarrapadas, junto às bancas onde se vendem punhais e catanas, pelos mercados de livros espalhados no chão, a perder de vista, como um lençol branco e ondulante, as páginas a esvoaçarem, finas, escritas em árabe, quase transparentes, num rumorejar de papel de arroz, de penas. Ou à volta do homem que inventa mil e uma maneiras de dispor quatro tijolos.
Tem um enorme saco de pano branco cheio de areia, que atira de um lado para o outro, e assenta entre os tijolos. Parece estar zangado, impaciente. Está a vender alguma coisa? A fazer propaganda? A evangelizar?
"Está a ensinar", diz-nos em ingês um jovem de bigode e camisa branca impecável. "A ensinar a sepultar os mortos, segundo o Islão. As pessoas não sabem ou, com a pressa, colocam os corpos com a orientação errada".
É uma lição de ciência funerária. "Ele está a dizer que não é por se sepultarem os mortos à pressa ou em grandes quantidades que se pode fazê-lo de maneira imprópria", traduz o jovem, sem compreender por que razão alguém sepultaria um familiar à pressa.
"Chamo-me Mortada", apresenta-se ele. "Cheguei ontem de Cartum, onde vivo. Disseram-me que no Darfur poderia encontrar trabalho. Sabe de alguém que tenha um emprego para mim?"
Mortada destoa completamente no cenário circundante. Não só por usar calças e camisa e por estar limpo. Também e acima de tudo pela sua expressão cortês, de executivo diligente e atarefado. "Estou a juntar dinheiro para emigrar para o Canadá". Abre a "pasta" preta que traz consigo, nada menos do que a capa do menu de um restaurante de hotel, para mostrar os recibos de centenas de dólares que já pagou, durante quatro anos, a uma duvidosa empresa sudano-canadense que lhe prometeu um visto. "Preciso de trabalhar, para pagar todas as despesas. Espero, no prazo de um ano, estar no Canadá".
Empregamo-lo como tradutor. Após uma breve conversa sobre as entrevistas que faremos e os locais que visitaremos, Mortada tem lágrimas nos olhos. Nunca ouvira falar da crise humanitária do Darfur.
Ávido de desempenhar competentemente a sua tarefa, quer aprender a soletrar correctamente algum vocabulário de que irá necessitar. Abre a sua capa profissional onde se lê, a dourado, "Hotel Palace". No topo da única folha em branco que tem no interior escreve em inglês, em maiúsculas: "GENOCÍDIO, VIOLAÇÂO, LIMPEZA ÉTNICA"
Partimos de Nyala, rumo aos Campos de Deslocados. Segundo a ONU, são muitas centenas, espalhados por todo o território do Darfur. Ao todo, quase dois milhões de pessoas fugiram das suas aldeias e estão em perigo de vida, por falta de comida e medicamentos. Fugiram, segundo as autoridades, por causa da guerra lançada pelos rebeldes, do Movimento de Libertação do Sudão (SLM) e do Movimento para a Justiça e Equidade (JEM), que combatem as forças governamentais, com o objectivo de conquistarem o poder. Foi esta a tese que Mortada ouviu na televisão, em Cartum.
Nos arredores de Nyala, há aldeias habitadas, com mulheres e crianças à volta das pequenas casas redondas, com telhados de palha e paredes feitas com uma amálgama de lama, fezes de burro e palha. À medida que o carro avança aos solavancos pelos trilhos, entramos numa mata selvagem, de vegetação rasteira mas densa, a chamada savana pobre, que caracteriza as regiões a Sul do deserto do Sara.
Num lago fétido, formado pelas chuvas repentinas dos últimos dias, meninos tomam banho nus. Mulheres avançam pelos caminhos, com pilhas de lenha à cabeça.
Mas ao afastarmo-nos escassos quilómetros da cidade, a paisagem muda. Todas as aldeias estão vazias. Algumas destruídas. Pássaros de enormes bicos curvos ou plumas de cores bizarras ocuparam as carcaças das cubatas, lançando gritos estridentes na savana devolvida ao estado primitivo. A atmosfera tem o assombro de uma fábula. Sentimo-nos intrusos. Tudo palpita e cintila, como se na selecção natural todas as espécies vivas - excepto uma - tivessem uma história de sucesso para contar. Excepto a nossa.
Os seres humanos só voltam a habitar a paisagem nas imediações de Oteich, um dos Campos de Deslocados, onde se refugiam cerca de 18 mil pessoas. Antes de entrarmos, cruzamo-nos com algumas mulheres a carregar lenha, com burros e vacas muito magros, bandos de crianças a gritar "ok, ok, ok", correndo atrás do carro onde viram um estrangeiro. Mas a maioria não sai do perímetro do campo. Fora dali ninguém lhes garante a segurança, explicam. E ali também não. Mas tinham de refugiar-se em algum lugar. As cerca de dez mil cabanas, a que chamam "burmas" aglomeram-se a menos de um palmo umas das outras, construídas com ramos e plásticos, ao ritmo do próprio medo.
"Eu vim a pé, da aldeia de Bolbula, com os meus quatro filhos. O mais velho foi morto. Também mataram os meus pais e os meus quatro irmãos. O meu marido desapareceu, não sei se está vivo ou morto", conta Mariam Isak Ahmed, num relato angustiado idêntico aos que viríamos a ouvir centenas de vezes. "De madrugada, um avião bombardeou a aldeia. Destruiu a maior parte das casas, matou muita gente. Logo a seguir, atacaram os janjawid, uns 30 ou 40, montados em camelos e cavalos, armados com espadas e metralhadoras". A história do costume, repetida até à vertigem, até à náusea, até à banalidade. A história do Darfur. "Começaram a matar todos os homens. Vi violarem algumas mulheres. Lançaram fogo à aldeia. Quem pôde, fugiu. Dispersámo-nos. Nunca mais vi o meu marido".
Outra mulher, Mariam Jacob, 19 anos, tem ao colo um bebé de 18 meses, Abdelmajid Josef. "Eles chegaram de manhã. Mataram os meus pais e os meus irmãos. Incendiaram a aldeia. Roubaram tudo. Eu fugi, mas tenho muito medo. Eles estão aqui", diz ela, referindo-se aos polícias que guardam o campo. Dir-se-ia que contraíu uma paranóia de perseguição, que está louca. O minúsculo e ressequido Abdelmajid chora ininterruptamente. "Não tenho leite, a mama secou. Onde vou encontrar comida para ele?" Mariam diz isto com a voz a tremer. "Onde vou encontrar comida?"
Um homem de 36 anos, Amin Josef Abderazik, conta como dos seus sete filhos só um sobreviveu. "Já era costume os árabes virem assaltar a nossa aldeia, Kidi Nir. Mas a Polícia protegia-nos como podia. Desde há seis meses, as coisas pioraram. A Polícia saiu da região, deixando-nos à mercê dos janjawid". Abderazik era um agricultor abastado. Tinha cavalos e um tractor, cultivava goma arábica, sorgo, cebolas e tomates. Perdeu tudo. Os janjawid (palavra que, em árabe, significa "demónios a cavalo" ou "cavaleiros do Inferno") atacaram a aldeia há três meses. "Foi óbviamente tudo concertado. Primeiro surgiram aviões e helicópteros, das Forças Armadas sudanesas. Largaram três bombas, que destruíram cinco casas e a escola. Logo a seguir vieram os janjawid, em cavalos e camelos, armados com metralhadoras kalashnikov e GM3. Alguns vestiam camuflados, outros uniformes do Exército sudanês. Cercaram a aldeia, e incendiaram o que restava dela. Começaram a matar indiscriminadamente. Assassinaram 250 pessoas. Roubaram tudo, gado e comida. Não podíamos defender-nos, só os árabes têm armas. Fugimos. Mais de cem pessoas. Viemos todos juntos, até aqui".
Abderazik admite que simpatiza com o SLM, um dos grupos rebeldes. "Eles estão armados, podem proteger-nos. Defendem os africanos". Mas garante que não havia nenhum guerrilheiro na aldeia.
Uma mulher, Assida, veio há quatro meses, de Doggi, nas montanhas do leste. Foi a primeira a chegar a Oteich. Os janjawid mataram-lhe o marido e o filho, ela fugiu, com mais 14 raparigas. "Não havia nada aqui. Mas depois chegou o WFP (Programa Alimentar Mundial). Durante alguns meses, distribuíram comida. Agora há gente a mais, a maioria não tem senhas, que já não são distribuídas. A maioria passa fome. Hoje, por exemplo, ainda ninguém comeu nada".
Ao princípio, os refugiados falavam a medo, constrangidos pela presença dos seguranças do Campo, receosos de que os seus relatos lhes custassem punições, represálias. Mas agora, encorajados pela coragem dos primeiros, todos querem falar. Juntam-se à nossa volta em chusma, gritam, discutem, quase lutam para que lhes seja dada a vez, indiferentes ao facto de, como muitos descreveram, alguns dos janjawid que os atacaram estarem agora ali a guardar o Campo, entretanto convertidos em polícias.
Todos querem narrar o seu caso pessoal, sem se aperceberem de que é igual aos outros. Todos querem falar da fome e das doenças.
Uma mulher, Hawha Ahmed, de 25 anos, exibe os olhos amarelos dos três filhos. Outra traz o marido que está a morrer de diarreia. Outra ainda mostra a bebé que traz ao colo, Rogaia Abaker, de 18 meses, a cabeça coberta com um pano. "Foi às dez da noite que os janjawid chegaram a Bakhit. Começaram a matar as pessoas, o meu marido desapareceu, deve ter morrido. Depois incendiaram as casas. A Rogaia ficou ferida no fogo". E neste momento a mulher faz algo de terrível. Lentamente, sem por um único momento olhar para a filha, descobre-lhe a cabeça. É impossível conter um grito de horror. Rogaia tem o cérebro exposto. O crânio aberto, os miolos a palpitarem no calor insuportável do Darfur, róseos e húmidos, debruados de veias, lavrados de membranas. Uma menina viva com o cérebro nu.
"Foi ao médico?", perguntamos, mas já tudo está distante, já o Campo de Oteich se transformou no cenário de um pesadelo difuso, demente, incompreensível. "Porque não vai ao médico?" Um cenário desumano. Cada vez mais grotesco e cada vez mais natural aos nossos olhos. O absurdo é embriagante. Já nada surpreende. Isto é o Darfur. Como sob o efeito de um narcótico, ouvimos mais histórias de horror. Vemos mais doentes, mais feridos. Uma mulher conta-nos como a prima foi violada, na aldeia de Aluf. Insiste em levar-nos até ela, para ouvirmos o relato em primeira mão. Entramos numa burma com Amuna Abelrahman, uma rapariga alta e atraente, de 20 anos. Estão presentes apenas a prima e o líder tribal, mas lá fora aglomera-se uma multidão, sedenta dos pormenores da violação. Todos sabem o que aconteceu a Amuna e a outras 25 mulheres da aldeia. Todos conhecem de cor as práticas dos janjawid, mas nem por isso deixam de votar as violadas ao opróbio e ao ostracismo.
"Eu e a minha prima andávamos a apanhar lenha, perto da aldeia, à tarde", conta Amuna, sem levantar os olhos, desenhando quadrados no chão, com um dedo. Mortada vai traduzindo, num sussurro. "Eram cinco horas. Eles chegaram, cinco homens a cavalo, com kalashnikovs. Apearam-se, correram atrás de nós. Fugimos, mas eu caí, e apanharam-me. Dois deles ficaram a agarrar-me os pés e as mãos, os outros três fizeram sexo comigo". Amuna cala-se. Gotículas de suor formaram-se por todo o seu rosto escuro e suave. A prima continua, a chorar: "Os janjawid fugiram, ela ficou no chão, inconsciente. Fui lá buscá-la, com alguns vizinhos. Trouxemo-la de burro para a aldeia. Ficou três meses no hospital. Por sorte não engravidou". O pai de Amuna morreu, de desgosto e vergonha e um primo mais velho, que já tinha três mulheres, casou com ela, para não ficar sozinha.
Ouvimos mais histórias, vemos mais crianças doentes, ou feridas, muitas sem terem recebido qualquer tratamento, apesar de haver uma clínica no Campo. A mãe de Rogaia diz que foi ao médico, mas é evidente que está a mentir. O cérebro da menina não apresenta nenhuma espécie de curativo.
"A maior parte dos doentes tem malária, febres, vómitos ou diarreias. Muitos deles ferimentos, que se tornaram graves por terem ficado meses sem tratamento", explica-nos Badaoui Jaffar, um dos dois médicos, voluntário sudanês. A sala de espera da tenda que constitui a clínica está repleta de doentes, alguns deitados no chão, de olhos fechados. Uma menina de 9 anos está a ser tratada. Tem uma ferida enorme e horrível abrangendo o pé e parte da perna. "Foi uma bala, dos janjawid, há duas semanas", explica a mãe. Só hoje foi tratada. O médico não consegue afastar os milhares de moscas da ferida aberta. Mariam diz que lhe dói muito, porque lho perguntamos, mas não chora.
"Quase todas estas doenças seriam facilmente curáveis", diz o médico. "Mas faltam-nos os meios básicos. Há cada vez mais refugiados que chegam, muitos não vêm ao médico, não se sabe porquê. Certas pessoas andam meses com feridas profundas. Quando as vemos, é demasiado tarde. Não temos forma de fazer um levantamento dos problemas de saúde. Só aqui vem quem quer".
Visitamos outros Campos, Kalma, o maior de todos, com mais de 85 mil refugiados, Asseref, com mais de 70 mil. Aqui, pelo menos cinco mil pessoas chegaram demasiado tarde para receberem as senhas de comida do WFP, e estão a morrer à fome. Outros tantos de doenças. A atmosfera está carregada de desespero, de terror. Ao contrário de Kalma, neste Campo não há uma administração oficial, nem polícia. Os janjawid andam nas imediações e atacam quem se aventure a ir apanhar lenha, ou, durante a noite, no próprio campo, que é liderado por um chefe tribal. Morrem umas dez pessoas por dia, diz ele, que mantém uma lista actualizada de toda a população. "Mas ontem chegaram dez, e anteontem 20..."
Amar Gedit chegou com os filhos durante a noite. Os janjawid mataram-lhe o marido em Dresa, uma aldeia a 20 quilómetros daqui, há dois dias. Outra mulher diz ser a única sobrevivente de uma família de dez pessoas, outra queixa-se de que não come há uma semana, outra de que tem o marido e os filhos doentes. Há cada vez mais gente à nossa volta, num coro de histórias macabras e queixumes. As pessoas falam todas ao mesmo tempo, gritam, apertam o círculo. "Eles vieram à meia-noite, a cavalo..." "Antes só roubavam, agora matam..." "Os aviões lançaram bombas, depois os janjawid cercaram-nos..." "mataram sete pessoas da minha família..." "Roubaram tudo, levaram as vacas, queimaram as colheitas..." "Mataram o meu irmão..." "Mataram o meu filho..."
A temperatura é de quase 50 graus. O cheiro insuportável. Não se consegue respirar. Mortada berra, empurra, mas não consegue impor a ordem. Logramos furar por entre a turba alucinada e infecta, fugir, mas perseguem-nos, aglomeram-se de novo à nossa volta. Agora sim, começam a organizar-se: atiram para a frente os que têm histórias mais horrendas, e os mais doentes. Uma mulher de 40 anos, Fatma Adam, conta: "O meu filho correu atrás das vacas, que estavam a ser roubadas, e um janjawid apanhou-o. Enterrou-lhe uma lança na boca, uma lança comprida, como as que eles usam, uma arba. Enterrou-a com toda a força na boca do meu filho, até lhe sair pelas costas".
Asha Isa, 24 anos, mostra-nos o filho doente. Tem dores de estômago e diarreia e a cara empapada em lágrimas e moscas, que a mãe já se cansou de sacudir. Não foi ao médico porque há demasiadas pessoas à espera, diz ela. Abdelcrim Suleiman, 40 anos, exibe os dez filhos, todos doentes, com diarreia e febre. O marido tem malária. Zarha Moussa Ali, 36 anos empurra para a frente o filho de quatro anos, que tem diarreia e os olhos amarelos e acaba por cair aos seus pés, sem forças. Rasha Adam Ateib, 25 anos, está grávida de nove meses. Os janjawid cercaram a sua aldeia, Cornei, depois do ataque aéreo, de nove bombas. "Incendiaram as casas e ficaram à espera que saíssemos, para depois dispararem sobre as pessoas em fuga. Quase toda a gente morreu, incluindo o meu marido. Eu vi, um a um. Fugi sozinha".
Rasha não tem senhas de comida, nem conhece ninguém. Não sabe o que fará quando nascer Mohamed, ou Mariam, se for menina.
Mortada decide alertar as médicas do Campo, quando falarmos com elas. Para que procurem Rasha e assistam o parto. Mas esquece-se.
Chegamos a Nyala com muitos nomes a ecoar na cabeça - Mariam, Asha, Fatma, Kaltum, Amuna, Rasha, Rogaia - mas uma só história, mil vezes repetida.
Para desespero de Mortada, a realidade é inequívoca: as milícias armadas das tribos árabes, os janjawid, estão a actuar em coordenação com as forças governamentais sudanesas com o objectivo de exterminar parte da população das tribos africanas do Darfur. Todos os refugiados dos Campos pertencem a tribos "africanas" - Fur (Darfur significa "terra dos Fur"), Zagawa, Masalit. E todos os janjawid, segundo os testemunhos, pertencem a tribos "árabes" - Hadari, Rizagat, Tarjan. A guerrilha rebelde nasceu no seio das populações "africanas", numa contestação contra o Governo central de Cartum, dominado pelos "árabes", e o abandono a que foi votada a região e as populações "africanas". Estas, por sua vez, apoiam, de forma evidente, a rebelião, pelo que o Governo optou por atacar o mal pela raiz: exterminar os "africanos", ou pelo menos confiná-los a "campos de concentração" onde as suas actividades possam ser vigiadas. Como não conseguia fazê-lo sozinho, uma vez que a maioria dos soldados é de origem "africana", pediu ajuda aos chefes tribais "árabes", usando a seu favor a rivalidade ancestral entre os dois grupos étnicos. Rivalidade baseada mais nas quesílias endémicas entre pastores nómadas e agricultores sedentários do que na etnia propriamente dita, já que árabes e africanos há muito que se miscigenaram no Darfur, têm a mesma religião - o islão - e falam a mesma língua, o árabe.
Os "gangs" de árabes nómadas, montados em cavalos e camelos, armados de espadas e lanças, que atacam as aldeias para roubar gado e colheitas são uma tradição imemorial no país. A novidade é que agora têm metralhadoras e são apoiados por bombardeamentos aéreos.
"Não posso acreditar que o nosso Governo está a matar as pessoas. Em Cartum, ninguém sabe isto". Nem mesmo a Mortada, cuja vida mudaria para sempre com esta descoberta, resta qualquer dúvida.
O que está por explicar é por que razão as pessoas não vão ao médico. Simone Niederastroth, uma das duas médicas alemãs de Asseref, tinha-nos contado que tratam umas 200 pessoas por dia, principalmente de malária, infecções gástricas e de pele, otites e feridas infectadas. Mas que poderiam tratar mais, assim elas aparecessem na clínica. E que a situação é tanto mais grave quanto é quase certo, se os cuidados médicos não se intensificarem nos próximos meses, o surgimento de epidemias que matarão milhares de pessoas.
A explicação surgiria inesperadamente num dos mercados de Nyala, através de uma personagem burlesca e intrigante que se apresentou como Achir Ahmed Al-Baferi, iemenita, feiticeiro. Barba grisalha comprida em bico, óculos de espelho, dentes de ouro, chapéu mexicano sobre um barrete de renda, túnica branca, lenço às riscas e um Corão, Al-Baferi é um homem que não passa despercebido. Compreende-se que parte da sua autoridade lhe advém do "look" radical, que cultiva com grande competência. "Curo todo o tipo de doenças psicológicas, a maior parte das malárias e mais de 30 espécies de cancro, com o recurso exclusivo a plantas e rezas", declara. E oferece-se para uma visita guiada ao mercado.
Nada é o que parecia. Com as explicações do feiticeiro, enquanto caminhamos entre as bancas e os produtos expostos no chão, a cidade transforma-se num mundo mágico. "Isto é gorinjan, cujo chá cura os males intestinais", ensina, apontando para um cesto de raízes secas. "Esta pasta verde é chamarr, que dá sabor à comida e faz baixar a febre. Esta casca de árvore chama-se girfa e é óptima para as infecções cutâneas. Isto parece favas pretas mas é haradip, o principal remédio contra a malária. Carcadê faz baixar a tensão arterial, godem é bom para quem não tem sangue suficiente, tubeldi põe-se em água até fazer papa e cura a prisão de ventre".
Al-Baferi pára junto a uma banca que vende "produtos para as senhoras". Dicka, um pó avermelhado para tornar a pele mais macia. Khombra, um óleo aromático para fazer uma mulher irresistível. Só para casadas. Chaf... é melhor ser a vendedora a explicar as propriedades dos pauzinhos semelhantes a canela, sugere o iemenita.
"Bem, há aquelas moças que já foram um pouco... usadas. Ou que tiveram um filho...", começa a vendedora gorda, com ar malandro. "Faz-se uma fogueirinha com chaf, até deitar muito fumo. Então a mulher que tem o problema despe-se da cintura para baixo e senta-se assim..." Exemplifica, pondo-se de cócoras sobre os pauzinhos. "Este fumo especial trabalha-lhe aqui as partes, deixando tudo apertadinho de novo..."
Al-Baferi vai apoiando com a cabeça, com toda a autoridade que manifestamente lhe reconhecem. É claro que no Darfur ninguém tem o hábito de consultar médicos. É natural que olhem com desconfiança os voluntários estrangeiros que trabalham nos Campos de Deslocados.
Al-Baferi, que vive nas montanhas e só desceu ao povoado para comprar algumas raizes, diz que está a elaborar, para entregar à ONU, um completo relatório. Um trabalho de pesquisa com soluções para a crise humanitária - à base de chás que curam todas as doenças, especialmente a loucura - e para a crise política.
Neste capítulo, só há um remédio: usar os líderes tribais. "Só a eles as pessoas ouvem e obedecem. Não aos políticos ou aos estrangeiros. O Governo deve reunir os chefes das tribos, que representam o povo".
Em Cartum, Musa Hilal, considerado o líder de todos os janjawid do Darfur, indicara-nos os nomes de dois chefes tribais árabes na região de Nyala - Mohd Jakob Elomba, chefe dos targem, e Abdalah Abunova, dirigente máximo dos mahria. Tentar encontrá-los em Nyala não é tarefa fácil. À simples menção dos seus nomes, a maior parte das pessoas cala-se, ou foge. "Eles são os chefes dos janjawid", disse-nos um vendedor. "São homens muito perigosos. Não contem a ninguém que vos disse isto".
Depois de muita investigação, com a ajuda do chefe da polícia e do juiz, ambos "árabes", encontrámos a casa de uma das quatro mulheres de Elomba, Hawah Shahta. Mas o único vestígio do grande chefe é o seu cavalo, o Arkalzal (Terramoto). Elomba partiu de jipe para a aldeia de Bulbul, onde tem outra esposa, para resolver um conflito tribal precisamente com o seu amigo Abunoba.
O autocarro para Bulbul é um indiscritível monte de sucata ferrugenta com os vidros partidos, embora todo forrado, por dentro, a veludo vermelho e berloques. Os passageiros têm de sair e empurrar, para que o motor pegue, mas depois avança aos pinotes pelos trilhos como se fosse um todo-o-terreno. O sol está a por-se na savana pobre. Surgem as primeiras aldeias, todas arrasadas. A seguir, bandos de nómadas, em camelos. Numa paragem entra um homem que declara não ter dinheiro para o bilhete. "Não tens mesmo? Então podes vir", diz o condutor. Mortada aproveita para explicar as tradições sudanesas de entreajuda. Nafir, é quando alguém precisa, por exemplo, de construir uma casa, e todos ajudam. Faza, é quando alguém morre e todos correm para apoiar, dar consolo", vai dizendo, enquanto passamos por casas incendiadas e crateras de bombas.
Chegamos a Bulbul. A aldeia está pejada de homens de camuflado e metralhadoras, sinal de que os líderes janjawid estão por perto. Dois dos guardas aproximam-se e Mortada estende-lhes o papel que retira da capa do menu do Hotel Palace e onde escrevera os nomes dos dois líderes. O homem da kalashnikov começa a ler com todo o vagar e... Maldição! No topo da folha pode ler-se, em maiúsculas "GENOCÍDIO, VIOLAÇÂO, LIMPEZA ÉTNICA". É tarde de mais para lhe tirar o papel. Ele não o larga mais. Faz-nos sinal para o seguirmos.
Junto a um grande toldo feito de ramos, um abrigo de nómadas, não longe de várias casas com paredes de bosta e erva, estão três jipes, dezenas de guardas armados e os dois chefes, com os seus séquitos. Já foram avisados da nossa chegada e preparam-se para a entrevista.
"É uma grande honra que um irmão jornalista português tenha vindo de tão longe para descobrir a verdade sobre o Darfur", diz Abunoba, um homem com 1,90m, de jalabia branca imaculada e sapatos de leopardo. Uma bengala, um relógio de ouro e uma pasta de executivo completam a indumentária que, juntamente com o colega Elomba, os distinguem dos outros.
Sentamo-nos num tapete e Abunoba começa a dissertar sobre as origens da crise na região. "A ONU e os americanos falam de genocício, mas isso não é verdade. Há um conflito normal entre dois tipos de sociedade: a dos pastores e a dos agricultores. Dantes, estes conflitos eram resolvidos pelos líderes tribais, com os seus tribunais e a sua lei, que se chama Orf. O que se passa agora é que houve um aproveitamento político destes conflitos. Os rebeldes do SLA começaram a atacar os nómadas, a roubar, e a convencer os africanos de que é preciso lutar contra os árabes e o Governo".
Cai a noite, chega a hora da oração. Alguém grita "Alá uh Akbar!" Abunoba pede desculpa por interromper a entrevista e todos se prostram voltados para Meca, as jalabias brancas como que acesas pelo luar intenso.
Jantamos, grandes pedaços de carneiro com molho de sorgo, e continuamos a conversa pela noite dentro. Abunova e Elomba mostram as espadas (jafir) e os punhais que usam, quando viajam a cavalo. As lanças enormes (harba) iguais à que matou o filho de Fatma. Contam como as suas tribos vieram da Arábia, criticam as acções dos americanos, a guerra do Iraque, as mentiras da ONU e a campanhas de propaganda dos rebeldes, explicam como funciona a lei Orf, os julgamentos, as multas, os acordos entre chefes, como os líderes tradicionais são eleitos pela população, como se articula o seu poder com o da administração oficial e também como isso se alterou lentamente ao longo da História e, subitamente, nos últimos meses.
Com efeito, os últimos Governos do país foram retirando prerrogativas ao líderes tribais. Impotente para resolver a actual crise, no entanto, Cartum pediu ajuda aos chefes tradicionais. Ajuda militar, em troca de mais poder político, administrativo e judicial. Um chefe tribal podia por exemplo, explica Elomba, condenar criminosos em penas até 4 anos, sem recurso a um tribunal estatal. A partir deste ano, esse limite passou a ser de 7 anos. "O Governo deu-nos esse direito, para enfrentar os novos eventos".
Depois convidam-nos a dormir ali, para que no dia seguinte possamos assistir a julgamentos e visitar as aldeias vizinhas, constatando como árabes e africanos vivem em harmonia. Aceitamos. Dormimos ao relento, com os assassinos, a ouvir os burros, as vacas, os cães, os pássaros, os mosquitos, e a sonhar com o filho de Fatma, empalado numa lança, e o de Rasha, que ia nascer para a morte, com Amuna, violada pelos janjawid, e o cérebro exposto da menina queimada, o cérebro viscoso, repelente, a funcionar, a pensar, e cérebro maravilhoso de Rogaia.
De manhã cedo começam os julgamentos. Um homem queixa-se de que um camelo lhe estragou as culturas. Depois de uma longa conversa entre os chefes das respectivas tribos, o culpado é condenado a uma pesada multa. Uma rapariga apedrejou um camelo; um homem armou uma zaragata. Resolvidos todos os crimes, saímos em missão. Quatro jipes em caravana, com os chefes e os guardas armados. Objectivo: aldeia de Brambram, onde há um mercado. Até lá, passamos por muitas manadas de vacas e varas de camelos, a pastar nas terras que estiveram cultivadas. Passamos por várias aldeias, todas vazias, algumas destruídas. Que aconteceu aqui? "Ouviram dizer que havia guerra, fugiram para os Campos de Deslocados", é a resposta. E ninguém mais toca no assunto. Todas são aldeias Fur, a maior tribo africana.
Mortada tem um olhar desesperado. Transformou-se noutro homem, em poucos dias. Já esqueceu o Canadá, quer ficar, para ajudar o seu povo, promete. De vez em quando, num murmúrio surdo, fala de Rasha, a grávida de Asseref. "Esqueci-me de dizer às médicas. Provavelmente o bebé morreu, e ela também, por minha causa".
Chegamos a Brambram. Os chefes Fur vêm receber-nos, cheios de deferência. Um enorme bode é morto ali mesmo, à punhalada, para oferecer de repasto aos visitantes. Elomba e Abunova, as jalabias imaculadas a contrastar grotescamente com os trapos imundos dos chefes africanos, sentam-se numa manta. Perguntam se há algum problema para resolverem. A resposta é não. Está tudo bem. Depois esperam que façamos a visita à aldeia.
Mal os vêem pelas costas, os chefes Fur desatam a contar tudo. São atacados por janjawid quase todos os dias, que os exortam a partir, com ameaças. Muitos homens foram mortos, mulheres violadas. A maioria da população já fugiu. No mercado não se vende nada, porque ninguém tem coragem de cultivar. As terras foram ocupadas pelos árabes.
Mostram-nos a escola fazia, sem professor há vários anos. A guarita onde havia polícias, também vazia. "Agora são eles que mandam", dizem, apontando na direcção de Elomba e Abunoba. "Estamos à mercê deles. Mandam os janjawid se desobedecermos. Têm um campo de treino aqui perto, em Taisha".
Terminada a visita, os líderes árabes devoram o bode, perante os olhares famintos de dezenas de crianças. No fim, quando só restam ossos, são autorizadas a servir-se. Isto é o Darfur. A harmonia entre árabes e africanos.
Mortada tem um olhar ausente, dir-se-ia estar louco. "Provavelmente o bebé morreu"... balbucia.
in Pública
17 de Outubro de 2004
quinta-feira, outubro 14, 2004
voz, violão e você
e já me ia esquecendo! quando falou sobre os músicos portugueses com quem tinha trabalho, o primeiro a ser mencionado foi o fausto. palavras para quê...
voz, violão e você
obviamente que fui ao concerto do chico césar... esperei pacientemente pelo terminus da bicha da bilheteira da fnac do chiado, onde me vi forçada a partilhar momentos com aquelas pessoas que anseiam por ir ver o cats ou a ivete sangalo. um dos tipos da bilheteira reservava-se apenas e somente para o pavilhão atlântico. fez um ar eficiente quando me perguntou "é para o pavilhão atlântico?". levantei os olhos do livro e abanei a cabeça. esperei pacientemente que a mãe moderna, que estava à minha frente a ser antendida por uma gerente qualquer da casa, chegasse à conclusão que nem em dezembro poderia levar o seu bebezinho de 21 meses a um espectáculo dedicado a pais e filhos. a certa altura, olhou para trás, para mim e esboçou um sorriso. não consigo ser como a minha irmã, que devolve amareladamente sorrisos forçados, daqueles que não chegam sequer aos cantos da boca e que nunca mostram os dentes. não sou. olhei para ela como se não existisse e voltei a debruçar-me no livro. por fim, a rapariga-gerente de clientes da fnac (grande sorte, não tem de usar aquele coletinho verde!), lá me atendeu. comprei dois bilhetes para a 1ª plateia e saí toda contente, descendo até ao rossio.
obviamente que o concerto foi pura e simplesmente magnífico. qual ramstein, qual stomp, qual anastasia (meu deus, estavam a dar panfletos anunciantes do concerto dessa gaja à porta do s. luiz! quando me apercebi do que tinha na mão, tive uma naúsea e fui de imediato deitar aquela nojeira no caixote do lixo. essa senhora, quando canta, parece que está a fazer força para fazer cocó), qual carapuças! "voz, violão e... você" dá o mote perfeito ao espectáculo, e é isso mesmo: o chico césar com os seus violões, a saltar e cantar, puxando pelo público.
obviamente que cantei todas as músicas que sabia, que bati palmas, que uivei como uma louca, de mãos em cone junto à boca, numa tentativa vã de ampliar o som. tanto uivei que o iodta que estava sentado à minha frente e a sua namoradinha desemxabida olharam-me de olhos arregalados. não sei porquê, acontece sempre isso. até parece que se incomoda alguém só por se soltar uns gritinhos histéricos e se cantar de voz alta...!
e, obviamente, a música que toca aqui ao lado foi escrita pelo chico césar para o rei da música brasileira, o roberto carlos (que, por sinal, nunca chegou a gravá-la... o idiota!). há quem lhe chame brega, ao rei e à música. sobre o rei, não me pronuncio; sobre a música também não. há muito que sou uma parola-brega assumida!
obviamente que o concerto foi pura e simplesmente magnífico. qual ramstein, qual stomp, qual anastasia (meu deus, estavam a dar panfletos anunciantes do concerto dessa gaja à porta do s. luiz! quando me apercebi do que tinha na mão, tive uma naúsea e fui de imediato deitar aquela nojeira no caixote do lixo. essa senhora, quando canta, parece que está a fazer força para fazer cocó), qual carapuças! "voz, violão e... você" dá o mote perfeito ao espectáculo, e é isso mesmo: o chico césar com os seus violões, a saltar e cantar, puxando pelo público.
obviamente que cantei todas as músicas que sabia, que bati palmas, que uivei como uma louca, de mãos em cone junto à boca, numa tentativa vã de ampliar o som. tanto uivei que o iodta que estava sentado à minha frente e a sua namoradinha desemxabida olharam-me de olhos arregalados. não sei porquê, acontece sempre isso. até parece que se incomoda alguém só por se soltar uns gritinhos histéricos e se cantar de voz alta...!
e, obviamente, a música que toca aqui ao lado foi escrita pelo chico césar para o rei da música brasileira, o roberto carlos (que, por sinal, nunca chegou a gravá-la... o idiota!). há quem lhe chame brega, ao rei e à música. sobre o rei, não me pronuncio; sobre a música também não. há muito que sou uma parola-brega assumida!
segunda-feira, outubro 11, 2004
só pensar em você
a música que toca aqui ao lado é dedicada porque...
...hoje é dia festa
cantam as nossas almas
para o menino manuueeeeel
uma salva de PALMAS!
(às vezes penso que tive cá uma sorte: fui-me apaixonar pelo homem mais lindo do mundo... e sou correspondida.
qual brad pitt, qual george clooney, qual keanu reeves, qual carapuças! o meu manelinho mete esses canastrões todos num chinelo!)
...hoje é dia festa
cantam as nossas almas
para o menino manuueeeeel
uma salva de PALMAS!
(às vezes penso que tive cá uma sorte: fui-me apaixonar pelo homem mais lindo do mundo... e sou correspondida.
qual brad pitt, qual george clooney, qual keanu reeves, qual carapuças! o meu manelinho mete esses canastrões todos num chinelo!)
quarta-feira, setembro 29, 2004
é isso mesmo!
assumidamente plagiando papoila:
"Como é que eu ponho músicas (files que tenho em disco) on-line?"
merci!
"Como é que eu ponho músicas (files que tenho em disco) on-line?"
merci!
espanto!
mas que merda de mensagem é essa aí em baixo?! já é a segunda vez que aparecem mensagens que não são minhas... será um hacker?
galáxia zé ramalho
Admirável gado novo
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz...
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do ¨normal¨
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz.....
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Eh! Oh! Oh! Vida de gado<
Povo marcado eh! Povo feliz....
Zé Ramalho
(1980)
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz...
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do ¨normal¨
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou
Eh! Oh! Oh! Vida de gado
Povo marcado eh! Povo feliz.....
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Eh! Oh! Oh! Vida de gado<
Povo marcado eh! Povo feliz....
Zé Ramalho
(1980)
terça-feira, setembro 28, 2004
easy recipe for JOYfulness !21
you won 't need a special formula or " tricky " recipe to be comforted by the holy ghost ! he will always there BY YOUR SIDE ! he will never leave you ! you won 't need to travel to paris or train with a " gourmet " chef to find favor in his eyes ! you won 't need to spend a pretty penny to " purchase " any fine wines or cheeses ! you won 't need to wait until hunting season or take out a " butterfly net " to " capture
sexta-feira, setembro 24, 2004
quinta-feira, setembro 23, 2004
as primeiras mulheres
Roma duvida da veracidade da notícia
Iraque: grupo radical anuncia ter assassinado as duas voluntárias italianas
Um grupo radical islâmico anunciou hoje ter assassinado as duas voluntárias italianas que foram sequestradas no Iraque no passado dia 7 de Setembro. O governo de Berlusconi e a ONG para a qual trabalhavam as duas jovens recusam-se, porém, a acreditar nesta notícia, que ainda não foi confirmada por fontes independentes.
O grupo que reivindicou o duplo assassinado, auto-denominado Organização Jihad, assegurou que matou as duas jovens depois de Itália não ter aceite as suas exigências de retirada das tropas do Iraque.Porém, o governo italiano e a Organização Não-Governamental Uma Ponte para Bagdad - para a qual trabalhavam as duas mulheres - têm dúvidas sobre a veracidade da notícia, posto que uma outra organização havia anunciado incialmente o rapto das voluntárias.
Por agora, as autoridades italianas mantêm a "máxima cautela" em relação a este anúncio, uma vez que o ministério dos Negócios Estrangeiros já fez saber que não dispõe de nenhum elemento que lhe permita confirmar a notícia.As duas italianas têm 29 anos e eram as duas únicas voluntárias da ONG em Bagdad.
estas duas raparigas têm a minha idade e faziam exactamente aquilo que sempre quis fazer. por estupidez, cobardia, preguiça nunca tentei seriamente trabalhar nesta área. admiro-as. invejo-as. ao menos fizeram alguma coisa de útil das suas vidas... eu não.
Iraque: grupo radical anuncia ter assassinado as duas voluntárias italianas
Um grupo radical islâmico anunciou hoje ter assassinado as duas voluntárias italianas que foram sequestradas no Iraque no passado dia 7 de Setembro. O governo de Berlusconi e a ONG para a qual trabalhavam as duas jovens recusam-se, porém, a acreditar nesta notícia, que ainda não foi confirmada por fontes independentes.
O grupo que reivindicou o duplo assassinado, auto-denominado Organização Jihad, assegurou que matou as duas jovens depois de Itália não ter aceite as suas exigências de retirada das tropas do Iraque.Porém, o governo italiano e a Organização Não-Governamental Uma Ponte para Bagdad - para a qual trabalhavam as duas mulheres - têm dúvidas sobre a veracidade da notícia, posto que uma outra organização havia anunciado incialmente o rapto das voluntárias.
Por agora, as autoridades italianas mantêm a "máxima cautela" em relação a este anúncio, uma vez que o ministério dos Negócios Estrangeiros já fez saber que não dispõe de nenhum elemento que lhe permita confirmar a notícia.As duas italianas têm 29 anos e eram as duas únicas voluntárias da ONG em Bagdad.
estas duas raparigas têm a minha idade e faziam exactamente aquilo que sempre quis fazer. por estupidez, cobardia, preguiça nunca tentei seriamente trabalhar nesta área. admiro-as. invejo-as. ao menos fizeram alguma coisa de útil das suas vidas... eu não.
quarta-feira, setembro 22, 2004
segunda-feira, setembro 20, 2004
bedel
substantivo masculino
empregado de uma universidade encarregado de marcar as faltas dos estudantes e dos professores;
(Do fr. ant. bedel, «id.», mod. bedeau, «sacristão», do frânc. *bidal, «oficial de justiça»)
esclarecida? já consegue esclarecer o menino-tubarão e a princesa-bruxinha? explique lá que bastou à tia xana consultar um dicionário...
empregado de uma universidade encarregado de marcar as faltas dos estudantes e dos professores;
(Do fr. ant. bedel, «id.», mod. bedeau, «sacristão», do frânc. *bidal, «oficial de justiça»)
esclarecida? já consegue esclarecer o menino-tubarão e a princesa-bruxinha? explique lá que bastou à tia xana consultar um dicionário...
olha-me este...
Saddam Hussein está "deprimido" e pediu "misericórdia", diz primeiro-ministro iraquiano
"Diz que os membros do seu regime actuaram por interesse geral e que o seu objectivo não era fazer mal".
é preciso ter lata!
"Diz que os membros do seu regime actuaram por interesse geral e que o seu objectivo não era fazer mal".
é preciso ter lata!
domingo, setembro 19, 2004
quinta-feira, setembro 16, 2004
quarta-feira, setembro 15, 2004
sr. calçado
o sr. calçado partilha comigo a administração do condomínio desde maio. é o meu co-administrador. hoje, pela segunda vez, levantei-lhe a voz. estou angustiada desde então.
o sr. calçado é um velhote de mais de 70 anos, que teve uma trombose há uns tempos atrás. se já era meio tonto, pior ficou. os seus olhinhos pequeninos brilham na sua cara paralisada e arrasta as palavras que lentamente se descolam de uma boca meio-curva, meio-recta. de tudo faz uma grande confusão e raramente me consegue explicar as coisas. repete a mesma história três e quatro vezes em menos de 20 minutos. hoje acordei com a campainha da porta. levantei-me sabendo que do outro lado estaria o sr. calçado, ansioso por me entregar alguma papelada e falar sobre os problemas do prédio. espreitei pelo buraco da fechado. atravês do seu ângulo abaulado confirmei o meu temor. dei meia volta e, silenciosamente, verifiquei se o esquentador estava aceso. deixei-o do outro lado da porta e entrei no banho. enquanto isso, o telefone tocava e o telemóvel anunciava "1 chamada não atendida". já esquecida, resolvi apanhar a roupa que estava estendida, receosa que a chuva a apanhasse desprevenida. tremi quando ouvi uma voz arrastada saudar-me "bom dia d. susana!". falei-lhe pela janela. perguntei-lhe o que queria, recorri à minha expressão mais aflita e expliquei-lhe que não tinha tempo para falar com ele, que tinha de correr para apanhar o metro. enquanto mecanicamente apertava as molas e restituia a liberdade às calças, cuecas e lençois, ouvi-o "estou aqui há já uma hora." voltei a não lhe abrir a porta, a deixá-lo de fora do meu 6ºd, prometendo-lhe que falaria com ele mais tarde, depois do trabalho.
mais tarde, depois do trabalho, toquei repetidamente à campainha da porta. como sempre, recebeu-me com um sorriso naquela sua boca parada. passado uns minutos, em total desespero mas sem razão, levantava-lhe a voz. fiquei agustiada até agora. amanhã vou voltar a tocar à sua porta e dizer "desculpe, sr. calçado".
o sr. calçado é um velhote de mais de 70 anos, que teve uma trombose há uns tempos atrás. se já era meio tonto, pior ficou. os seus olhinhos pequeninos brilham na sua cara paralisada e arrasta as palavras que lentamente se descolam de uma boca meio-curva, meio-recta. de tudo faz uma grande confusão e raramente me consegue explicar as coisas. repete a mesma história três e quatro vezes em menos de 20 minutos. hoje acordei com a campainha da porta. levantei-me sabendo que do outro lado estaria o sr. calçado, ansioso por me entregar alguma papelada e falar sobre os problemas do prédio. espreitei pelo buraco da fechado. atravês do seu ângulo abaulado confirmei o meu temor. dei meia volta e, silenciosamente, verifiquei se o esquentador estava aceso. deixei-o do outro lado da porta e entrei no banho. enquanto isso, o telefone tocava e o telemóvel anunciava "1 chamada não atendida". já esquecida, resolvi apanhar a roupa que estava estendida, receosa que a chuva a apanhasse desprevenida. tremi quando ouvi uma voz arrastada saudar-me "bom dia d. susana!". falei-lhe pela janela. perguntei-lhe o que queria, recorri à minha expressão mais aflita e expliquei-lhe que não tinha tempo para falar com ele, que tinha de correr para apanhar o metro. enquanto mecanicamente apertava as molas e restituia a liberdade às calças, cuecas e lençois, ouvi-o "estou aqui há já uma hora." voltei a não lhe abrir a porta, a deixá-lo de fora do meu 6ºd, prometendo-lhe que falaria com ele mais tarde, depois do trabalho.
mais tarde, depois do trabalho, toquei repetidamente à campainha da porta. como sempre, recebeu-me com um sorriso naquela sua boca parada. passado uns minutos, em total desespero mas sem razão, levantava-lhe a voz. fiquei agustiada até agora. amanhã vou voltar a tocar à sua porta e dizer "desculpe, sr. calçado".
terça-feira, setembro 14, 2004
re-inventada
nunca comprei nenhum álbum da madonna. nunca fui fã mas sempre adorei a forma como se vestia em plenos anos 80: as cruzes, as rendas, as meias esburacadas, o sinal por cima do lábio, o cabelo apanhado numa fita, aquela sua voz esganiçada a cantar o borderline... a época desde oerotica até ao bed time stories nunca me fascinou por aí além. até que na índia, em goa, num quarto tipo deluxe de alcatifa vermelha de um hotel em calangute vi o teledisco do frozen.
mas hoje arrepiei-me quando a ouvi cantar o papa don't preach (stop loving daddy, i know, i'm keeping my baby). e rendi-me: amanhã vou à fnac comprar um álbum dela... um qualquer... desde que tenha o borderline, ou o papa don't preach, ou o material girl, ou o like a prayer (you know i'll take there), ou o la isla bonita, ou o get in to the groove, ou o live to tell (foi a época em que ela esteve casada com o sean penn)... tinha 11 anos... porra, estou a ficar velha.
mas hoje arrepiei-me quando a ouvi cantar o papa don't preach (stop loving daddy, i know, i'm keeping my baby). e rendi-me: amanhã vou à fnac comprar um álbum dela... um qualquer... desde que tenha o borderline, ou o papa don't preach, ou o material girl, ou o like a prayer (you know i'll take there), ou o la isla bonita, ou o get in to the groove, ou o live to tell (foi a época em que ela esteve casada com o sean penn)... tinha 11 anos... porra, estou a ficar velha.
sexta-feira, setembro 10, 2004
nova ordem
só alguém que melodramaticamente não percebe nada de música é que pode afirmar que New Order (sim, caps lock!) é uma merda.
esperem só eu entender-me aqui com esta coisa de meter umas músicas na barra do lado, que vocês já vêm o que é boa música!
Crystal
We're like crystal, we break easy
I'm a poor man, if you leave me
I'm applauded, then forgotten
It was summer, now it's autumn
I don't know what to say, you don't care anyway
I'm a man in a rage (just tell me what I've got to do),
with a girl I betrayed
Here comes love, it's like honey
You can't buy it with money, you're not alone anymore,
(whenever you're here with me),
You shock me to the core, you shock me to the core
We're like crystal, it's not easy
With your love, you could feed me
Every man, and every woman
Needs someone, So keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming
I don't know what to say, you don't care anyway
I'm a man in a rage (just tell me what I've got to do),
with a girl I betrayed
Here comes love, it's like honey
You can't buy it with money, you're not alone anymore,
(whenever you're here with me),
You shock me to the core, you shock me to the core
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
New Order (2001)
esperem só eu entender-me aqui com esta coisa de meter umas músicas na barra do lado, que vocês já vêm o que é boa música!
Crystal
We're like crystal, we break easy
I'm a poor man, if you leave me
I'm applauded, then forgotten
It was summer, now it's autumn
I don't know what to say, you don't care anyway
I'm a man in a rage (just tell me what I've got to do),
with a girl I betrayed
Here comes love, it's like honey
You can't buy it with money, you're not alone anymore,
(whenever you're here with me),
You shock me to the core, you shock me to the core
We're like crystal, it's not easy
With your love, you could feed me
Every man, and every woman
Needs someone, So keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming
I don't know what to say, you don't care anyway
I'm a man in a rage (just tell me what I've got to do),
with a girl I betrayed
Here comes love, it's like honey
You can't buy it with money, you're not alone anymore,
(whenever you're here with me),
You shock me to the core, you shock me to the core
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
Keep it coming, keep it coming, keep it coming
New Order (2001)
terça-feira, setembro 07, 2004
sem-título (não me apetece pensar)
a minha irmã é tão melodramática...
na realidade, acabo por escrever muito para ela. mais para ela do que para o manel, por exemplo (esse nem sequer me lê...). e muito mais que para os meus amigos (já vou ser trucidada a próxima vez que encontrar uns quanto)s. diz ela, a minha mana, que sou seca. permite-se a leves doçuras via email, dizendo: "estou cheia de saudades tuas, minha parva, cretina". é assim, desta forma tão pungente, que me diz que me ama e que não consegue passar muito tempo sem mim. e depois ainda diz que eu sou seca... vá-se lá saber porquê...
quando iniciei este blog estava num período péssimo da minha vida. elegi esta forma para destilar veneno sobre um certo homem com quem tinha obrigatoriamente de conviver todos os dias úteis da semana. foi a minha catarse, o modo como expremia a minha frustração de um dia-a-dia vazio. esse homem já não está na minha vida... está longe e não deixo de sorrir sempre que penso que posso nunca mais o ver. também, acho que se o vir, lhe cuspo na cara e dou-lhe um pontapé nos tomates.
depois fui continuando a escrever. não sei muito bem porquê. a princípio por gosto, a determinada altura já por obrigação... a verdade é que não me resta muito tempo para me sentar em frente a este ecrã e divagar sobre a minha vida, esta minha vida normal, banal. mas agora, neste momento, confesso: escrevo com e por prazer. sabe-me bem...
na realidade, acabo por escrever muito para ela. mais para ela do que para o manel, por exemplo (esse nem sequer me lê...). e muito mais que para os meus amigos (já vou ser trucidada a próxima vez que encontrar uns quanto)s. diz ela, a minha mana, que sou seca. permite-se a leves doçuras via email, dizendo: "estou cheia de saudades tuas, minha parva, cretina". é assim, desta forma tão pungente, que me diz que me ama e que não consegue passar muito tempo sem mim. e depois ainda diz que eu sou seca... vá-se lá saber porquê...
quando iniciei este blog estava num período péssimo da minha vida. elegi esta forma para destilar veneno sobre um certo homem com quem tinha obrigatoriamente de conviver todos os dias úteis da semana. foi a minha catarse, o modo como expremia a minha frustração de um dia-a-dia vazio. esse homem já não está na minha vida... está longe e não deixo de sorrir sempre que penso que posso nunca mais o ver. também, acho que se o vir, lhe cuspo na cara e dou-lhe um pontapé nos tomates.
depois fui continuando a escrever. não sei muito bem porquê. a princípio por gosto, a determinada altura já por obrigação... a verdade é que não me resta muito tempo para me sentar em frente a este ecrã e divagar sobre a minha vida, esta minha vida normal, banal. mas agora, neste momento, confesso: escrevo com e por prazer. sabe-me bem...
sexta-feira, setembro 03, 2004
ou muito me engano...
... ou este blog está a chegar ao fim.
já não me apetece escrever, não tenho tempo nem paciência nem vontade. não quero bater nas teclas e pensar na pontuação, preocupar-me com a gramática e com a ortografia.
há já muito tempo que sinto isto.
como diria a catarina, não me apetece!
logo se vê...
ps - já alguém leu o post que a minha irmã escreveu sobre a madalena? está tão giro! estou inchada de orgulho, a babar por uma e por outra...
já não me apetece escrever, não tenho tempo nem paciência nem vontade. não quero bater nas teclas e pensar na pontuação, preocupar-me com a gramática e com a ortografia.
há já muito tempo que sinto isto.
como diria a catarina, não me apetece!
logo se vê...
ps - já alguém leu o post que a minha irmã escreveu sobre a madalena? está tão giro! estou inchada de orgulho, a babar por uma e por outra...
quarta-feira, setembro 01, 2004
não me sai da cabeça desde que voltei...
voltei, voltei
voltei de lá
ainda agora estava de férias
e agora já estou cá
vale mais um mês lá
do que um ano inteiro cá
(minha versão da famosa cantiga do dino meira)
voltei de lá
ainda agora estava de férias
e agora já estou cá
vale mais um mês lá
do que um ano inteiro cá
(minha versão da famosa cantiga do dino meira)
terça-feira, agosto 31, 2004
ó caralho, então ela não me disse nada???
porra! então a minha irmã volta a escrever nos matraquilhos e ninguém me diz nada, porra? nem a própria???
estou tão estupefacta que nem sei se hei-de rir ou chorar...
é o que dá ser irmã de uma "inconstante, diletante, absurda", que ainda por cima diz que nunca será tia dos meus filhos...
decididamente... vou chorar!
estou tão estupefacta que nem sei se hei-de rir ou chorar...
é o que dá ser irmã de uma "inconstante, diletante, absurda", que ainda por cima diz que nunca será tia dos meus filhos...
decididamente... vou chorar!
a questão essencial
O estranho caso das leis iguais com práticas opostas
FERNANDA CÂNCIO
No turbilhão do debate sobre a vinda a Portugal do barco da Women on Waves, corre-se o risco de perder de vista a questão essencial. É esse o medo do médico e deputado do PSD Salvador Massano Cardoso. Este considera que, muito mais importante que discutir o problema do aborto a 12 milhas da costa é ter presente que milhares de portuguesas passam a outra fronteira do país para ir abortar a clínicas espanholas , que funcionam sob uma legislação idêntica à portuguesa. E pergunta: «Por que razão é que uma lei, sendo igual em Espanha e Portugal, tem consequências práticas tão distintas? Esse é o ponto nobre desta matéria, o ponto fulcral da discussão sobre o aborto».Para este social democrata, só há duas hipóteses. «Ou são os espanhóis que estão a abusar, ou é a nossa lei que não está a ser utilizada em toda a sua latitude. Não têm sido invocados os direitos que ela permite.» Porque, frisa, trata-se de saber se «a legislação em vigor em Portugal permite cobrir outras situações diferentes das que estão a ser cobertas». E não tem dúvidas sobre a resposta. «Pode! E uma das razões por que isso não sucede é a forma esporádica como isto é discutido.» O deputado lamenta que «sempre que se fala deste assunto se entre em ebulição, e em ebulição as pessoas não conseguem ser sensatas». Sensatez seria, para este clínico de Coimbra, fazer o que fazem os espanhóis, ou seja, admitir o aborto por motivos relacionados com o perigo para a saúde psíquica da mulher, o que naquele país correspondeu, na prática, a permitir o aborto «a pedido». «Há uma diferente interpretação: também podemos fazer recurso a esses aspectos, a nossa lei também o permite. A uma mulher que esteja grávida contrariada, isso pode causar-lhe danos psíquicos irreversíveis! Porque a saúde não é só a saúde física, há saúde psíquica e social!»Os motivos de uma tão radical diferença entre as interpretações portuguesa e espanhola da mesma lei prender-se-ão, para o médico, com «falta de coragem». Dos «sucessivos governos e principais partidos», incluindo o seu, dos médicos e da sociedade em geral. «Há uma certa passividade das pessoas: dá trabalho lutar...» Exemplifica com o facto de nunca se ter assistido, no País, a qualquer batalha legal sobre o assunto. «Que aconteceria se abrisse uma clínica de interrupção da gravidez, a funcionar como as espanholas, em Portugal? Numa primeira fase, uma espécie de terramoto. Teria de se recorrer aos tribunais, claro. Mas se isso sucedesse em meia dúzia de casos, acabar-se-ia por chegar à conclusão de que se estava dentro da legalidade». Certo é que ainda ninguém a tal se atreveu. Massano Cardoso imputa o facto «ao nível cultural dos portugueses». Também a «cultura médica» lhe merece reparo, a começar pela existência de um código deontológico que, ao «proibir o aborto», entra em contradição com a lei da República. O bastonário dos médicos, Germano de Sousa, admite que «o entendimento restritivo da lei é em grande parte imputável aos clínicos». E não nega ser a tal disposição do código - que já anunciou, no início do ano, dever ser alterada - a consubstanciação desse entendimento: «Nunca houve dentro da classe uma grande pressão para a modificação.» Alega até que «grande parte é objectora de consciência» mesmo se, no seu caso pessoal, frisa ser «completamente a favor das excepções previstas na lei». Mas a interpretação espanhola, mais lata na alegação de «ameaça à saúde psíquica» parece-lhe complicada: «é muito difícil demonstrar problemas de saúde psíquica.» Para Germano de Sousa, trata-se de perceber que «os médicos portugueses foram educados para respeitar a vida». Os espanhóis não? «Claro que sim... Mas eles são mais permissivos.»
in Diário de Notícias
FERNANDA CÂNCIO
No turbilhão do debate sobre a vinda a Portugal do barco da Women on Waves, corre-se o risco de perder de vista a questão essencial. É esse o medo do médico e deputado do PSD Salvador Massano Cardoso. Este considera que, muito mais importante que discutir o problema do aborto a 12 milhas da costa é ter presente que milhares de portuguesas passam a outra fronteira do país para ir abortar a clínicas espanholas , que funcionam sob uma legislação idêntica à portuguesa. E pergunta: «Por que razão é que uma lei, sendo igual em Espanha e Portugal, tem consequências práticas tão distintas? Esse é o ponto nobre desta matéria, o ponto fulcral da discussão sobre o aborto».Para este social democrata, só há duas hipóteses. «Ou são os espanhóis que estão a abusar, ou é a nossa lei que não está a ser utilizada em toda a sua latitude. Não têm sido invocados os direitos que ela permite.» Porque, frisa, trata-se de saber se «a legislação em vigor em Portugal permite cobrir outras situações diferentes das que estão a ser cobertas». E não tem dúvidas sobre a resposta. «Pode! E uma das razões por que isso não sucede é a forma esporádica como isto é discutido.» O deputado lamenta que «sempre que se fala deste assunto se entre em ebulição, e em ebulição as pessoas não conseguem ser sensatas». Sensatez seria, para este clínico de Coimbra, fazer o que fazem os espanhóis, ou seja, admitir o aborto por motivos relacionados com o perigo para a saúde psíquica da mulher, o que naquele país correspondeu, na prática, a permitir o aborto «a pedido». «Há uma diferente interpretação: também podemos fazer recurso a esses aspectos, a nossa lei também o permite. A uma mulher que esteja grávida contrariada, isso pode causar-lhe danos psíquicos irreversíveis! Porque a saúde não é só a saúde física, há saúde psíquica e social!»Os motivos de uma tão radical diferença entre as interpretações portuguesa e espanhola da mesma lei prender-se-ão, para o médico, com «falta de coragem». Dos «sucessivos governos e principais partidos», incluindo o seu, dos médicos e da sociedade em geral. «Há uma certa passividade das pessoas: dá trabalho lutar...» Exemplifica com o facto de nunca se ter assistido, no País, a qualquer batalha legal sobre o assunto. «Que aconteceria se abrisse uma clínica de interrupção da gravidez, a funcionar como as espanholas, em Portugal? Numa primeira fase, uma espécie de terramoto. Teria de se recorrer aos tribunais, claro. Mas se isso sucedesse em meia dúzia de casos, acabar-se-ia por chegar à conclusão de que se estava dentro da legalidade». Certo é que ainda ninguém a tal se atreveu. Massano Cardoso imputa o facto «ao nível cultural dos portugueses». Também a «cultura médica» lhe merece reparo, a começar pela existência de um código deontológico que, ao «proibir o aborto», entra em contradição com a lei da República. O bastonário dos médicos, Germano de Sousa, admite que «o entendimento restritivo da lei é em grande parte imputável aos clínicos». E não nega ser a tal disposição do código - que já anunciou, no início do ano, dever ser alterada - a consubstanciação desse entendimento: «Nunca houve dentro da classe uma grande pressão para a modificação.» Alega até que «grande parte é objectora de consciência» mesmo se, no seu caso pessoal, frisa ser «completamente a favor das excepções previstas na lei». Mas a interpretação espanhola, mais lata na alegação de «ameaça à saúde psíquica» parece-lhe complicada: «é muito difícil demonstrar problemas de saúde psíquica.» Para Germano de Sousa, trata-se de perceber que «os médicos portugueses foram educados para respeitar a vida». Os espanhóis não? «Claro que sim... Mas eles são mais permissivos.»
in Diário de Notícias
sexta-feira, agosto 06, 2004
quarta-feira, agosto 04, 2004
a razão porque eu fui para jornalismo
sei todos os episódios de cor até à quinta ou sexta série.
não sou jornalista.
não sou loura.
não sou americana.
a vida dá muitas voltas...
terça-feira, agosto 03, 2004
a pior crise humanitária no mundo
"O Darfur é devastado desde Fevereiro de 2003 por uma guerra civil que opõe as forças da Frente Nacional Islâmica, ligada ao Governo de Omar Hassan Ahmad al-Bachir, ao Exército de Libertação do Povo Sudanês, que controla parcialmente três províncias do Sul do país. Al-Bachir chegou ao poder em Junho de 1989, por meio de um golpe militar. Com poderes ditatoriais, tentou impor a lei islâmica a todo o Sudão, mas teve um grande foco de resistência no Sul, onde há grande número de cristãos e animistas, que reclamam uma maior autonomia para a região.
Acredita-se que a repressão à rebelião no Sul e a fome que assola o país tenham causado a morte de quase dois milhões de pessoas desde o início da guerra.
Cerca de 1,2 milhões de pessoas foram privadas dos seus bens no Darfur, tendo 200 mil fugido para o Chade. O número de mortos no Darfur atingiu já os 50 mil, segundo Jan Egeland, secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Humanitários. "
in Público on line
o que mais me choca é que já não me choca... sõa números demasiado brutais para sequer conseguir entender. ou por outra, seria toda a região da grande lisboa morta pela fome, violada pela guerra. este cenário está tão longe que, por mais que assistamos à tragédia em directo na tv, por mais que os jornais escrevam peças de última hora expondo os números da desgraça, não consigo pensar piedosamente mais de alguns segundos sobre estas pobres pessoas sem vida, sem existência, sem paz.
se algum dia o mundo for atingido por uma catástrofe sideral, são estas as pessoas que irão sobreviver e perpetuar a humanidade. eu não aguentaria um minuto num cenário destes. nem eu, nem ninguém do mundo dito civilizado, dito mais avançado, dito 1º mundo. não há vacina ou tecnologia possível que nos torne imunes ao inferno.
Acredita-se que a repressão à rebelião no Sul e a fome que assola o país tenham causado a morte de quase dois milhões de pessoas desde o início da guerra.
Cerca de 1,2 milhões de pessoas foram privadas dos seus bens no Darfur, tendo 200 mil fugido para o Chade. O número de mortos no Darfur atingiu já os 50 mil, segundo Jan Egeland, secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Humanitários. "
in Público on line
o que mais me choca é que já não me choca... sõa números demasiado brutais para sequer conseguir entender. ou por outra, seria toda a região da grande lisboa morta pela fome, violada pela guerra. este cenário está tão longe que, por mais que assistamos à tragédia em directo na tv, por mais que os jornais escrevam peças de última hora expondo os números da desgraça, não consigo pensar piedosamente mais de alguns segundos sobre estas pobres pessoas sem vida, sem existência, sem paz.
se algum dia o mundo for atingido por uma catástrofe sideral, são estas as pessoas que irão sobreviver e perpetuar a humanidade. eu não aguentaria um minuto num cenário destes. nem eu, nem ninguém do mundo dito civilizado, dito mais avançado, dito 1º mundo. não há vacina ou tecnologia possível que nos torne imunes ao inferno.
sexta-feira, julho 30, 2004
Amor e Sexo...
Amor é um livro - Sexo é esporte
Sexo é escolha - Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela - Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa - Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos ´
Sexo é uma selva de epiléticos
Amor é cristão - Sexo é pagão
Amor é latifúndio - Sexo é invasão
Amor é divino - Sexo é animal
Amor é bossa nova - Sexo é carnaval
Amor é para sempre - Sexo também
Sexo é do bom - Amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade
Amor é um - Sexo é dois
Sexo antes - Amor depois
Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora
... na visão clarividente da rita lee e dedicado à rita n.
parabéns, minha querida amiga!
Sexo é escolha - Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela - Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa - Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos ´
Sexo é uma selva de epiléticos
Amor é cristão - Sexo é pagão
Amor é latifúndio - Sexo é invasão
Amor é divino - Sexo é animal
Amor é bossa nova - Sexo é carnaval
Amor é para sempre - Sexo também
Sexo é do bom - Amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade
Amor é um - Sexo é dois
Sexo antes - Amor depois
Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora
... na visão clarividente da rita lee e dedicado à rita n.
parabéns, minha querida amiga!
quinta-feira, julho 29, 2004
sábado, julho 24, 2004
ALICE NO PAÍS DOS MATRAQUILHOS
Mãe for a (em que avenida?)
olhos que a perseguem, pagam, comem
pai dentro, lambendo a ferida
com que o desemprego marca um homem
e o irmão na caserna
puxando às armas brilhos
e Alice no café
habitante do país dos matraquilhos
Na classe dos repetentes
hoje vai haver mais uma falta
Alice cerra os dentes
vendo a bola que no ar ressalta
quer lá saber do exame
quer lá saber da escola
aguenta no arame
matraquilho nunca cai ao ir à bola
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Há também Leonor
libertada da prisão há meses
dizem que é por amor
que olha tanto por Alice, às vezes
pousa-lhe a mão na cara
protege-a de sarilhos
Alice nem repara
Viajou para o país dos matraquilhos
E o irmão na caserna
cambaleia entre a cerveja e a passa
tem a sargento à perna
o tal que compara a guerra à caça
faz tempo que descobre
que é um matraquilho mais
soldadinho de cobre
matraquilho no país dos generais
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Quando se cai na lama
ninguém pára p’ra nos levantar
Alice! o pai reclama
a tu mãe não veio p’ra jantar
e os insultos, noite fora
desfia-os em chorrilhos
Alice nunca chora
adormece no país dos matraquilhos
E a mãe no “bar do amor”
passa as horas na conversa mole
espera o seu protector
e que o seu corpo a ela enfim se cole
não é que não recorde
os que deixou em casa
mais eis que chega o Ford
e dentro vem o seu pavão de anel na asa
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Entra então no café
um rapaz de capacete em punho
fica-se ali de pé
escreve num papel um gatafunho
e a Alice lê, surpresa
frases que são rastilhos
“Como vai Sua Alteza
a rainha do país dos matraquilhos?”
“E tu, ainda és rei?
Será que voltaste em meu auxilio?”
“A bem dizer, já não sei
há tantos anos que ando no exilio…”
“Vamos a um desafio?”
“Atira tu primeiro”
“A vida está por um fio
para quem é deste bairro prisioneiro”
O café que ali houve
é uma loja com ares de modernice
e nunca ninguém mais soube
(a não ser a Leonor) da Alice
“Aqui vai, Leonor
a foto dos meus dois filhos
se reparares melhor
têm pinta assim, sei lá, de matraquilhos”
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Sérgio Godinho
(1989)
olhos que a perseguem, pagam, comem
pai dentro, lambendo a ferida
com que o desemprego marca um homem
e o irmão na caserna
puxando às armas brilhos
e Alice no café
habitante do país dos matraquilhos
Na classe dos repetentes
hoje vai haver mais uma falta
Alice cerra os dentes
vendo a bola que no ar ressalta
quer lá saber do exame
quer lá saber da escola
aguenta no arame
matraquilho nunca cai ao ir à bola
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Há também Leonor
libertada da prisão há meses
dizem que é por amor
que olha tanto por Alice, às vezes
pousa-lhe a mão na cara
protege-a de sarilhos
Alice nem repara
Viajou para o país dos matraquilhos
E o irmão na caserna
cambaleia entre a cerveja e a passa
tem a sargento à perna
o tal que compara a guerra à caça
faz tempo que descobre
que é um matraquilho mais
soldadinho de cobre
matraquilho no país dos generais
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Quando se cai na lama
ninguém pára p’ra nos levantar
Alice! o pai reclama
a tu mãe não veio p’ra jantar
e os insultos, noite fora
desfia-os em chorrilhos
Alice nunca chora
adormece no país dos matraquilhos
E a mãe no “bar do amor”
passa as horas na conversa mole
espera o seu protector
e que o seu corpo a ela enfim se cole
não é que não recorde
os que deixou em casa
mais eis que chega o Ford
e dentro vem o seu pavão de anel na asa
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Entra então no café
um rapaz de capacete em punho
fica-se ali de pé
escreve num papel um gatafunho
e a Alice lê, surpresa
frases que são rastilhos
“Como vai Sua Alteza
a rainha do país dos matraquilhos?”
“E tu, ainda és rei?
Será que voltaste em meu auxilio?”
“A bem dizer, já não sei
há tantos anos que ando no exilio…”
“Vamos a um desafio?”
“Atira tu primeiro”
“A vida está por um fio
para quem é deste bairro prisioneiro”
O café que ali houve
é uma loja com ares de modernice
e nunca ninguém mais soube
(a não ser a Leonor) da Alice
“Aqui vai, Leonor
a foto dos meus dois filhos
se reparares melhor
têm pinta assim, sei lá, de matraquilhos”
Alice no país dos matraquilhos é mais
do que no bairro em que vive tem-te-não-cais
Sérgio Godinho
(1989)
carlos paredes
"Não sou um homem de espectáculo. Sou alguém que fala com as pessoas através da guitarra."
quarta-feira, julho 21, 2004
ai portugal, não te deixes assim vestir...
Consulados Exigem Documento "Vexatório" para Conceder Visto de Entrada
Por JOSÉ PINTO DE SÁ
O processo de concessão de vistos de entrada nos consulados-gerais de Portugal nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) há muito que suscita o descontentamento dos requerentes. Entre os documentos exigidos figura um termo de responsabilidade que já foi considerado "absurdo", "vexatório" e prejudicial ao bom relacionamento entre os povos.
Um cidadão dos PALOP que deseje deslocar-se a Portugal em visita turística deve apresentar, além do passaporte válido e da passagem aérea de ida e volta, um documento do seu local de trabalho comprovando que está empregado e que a autoridade patronal tem conhecimento que vai ausentar-se do país. Mas além destes procedimentos, não incomuns, tem ainda que anexar um termo de responsabilidade emitido por um cidadão português, acompanhado do atestado de residência deste, ambos com a assinatura reconhecida em notário.
Ainda assim, muitas pessoas queixam-se de que, depois de produzidos todos estes documentos, amiúde o visto é recusado sem motivo aparente. Só resta então apresentar um pedido de reapreciação do pedido de visto, com uma declaração garantindo que não pretende permanecer em Portugal e que tem familiares e emprego no seu país. Quaisquer explicações sobre uma eventual recusa de reapreciação são endossadas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa.
A correr para o consulado-geral de Portugal em Maputo, na avenida Mao Tsé Tung, tem andado Sónia Chamba, moçambicana, casada e mãe de filhos, com emprego estável e registo criminal limpo. Durante dois anos juntou dinheiro para concretizar o sonho de umas férias em Portugal, incluindo uma saltada aos Açores. No continente, ficaria alojada em casa de uma prima cujo marido, cidadão português, se prontificou a redigir o termo de responsabilidade.
A 15 de Junho Sónia Chamba apresentou no consulado-geral todos os documentos exigidos, mas viu o seu pedido de visto indeferido. Quando procurou explicações, a funcionária disse-lhe apenas que o pedido fora recusado porque "a vinda a Portugal não tinha em vista a visita a nenhum familiar directo".
Sónia Chamba solicitou logo de seguida a reapreciação do seu pedido e o consulado informou-a que o processo seguiu para Lisboa, via fax, no dia 28 de Junho. No sentido de acompanhar o processo, o subscritor do termo de responsabilidade, José Mora Ramos, contactou o sector de vistos do MNE, em Lisboa, no dia 1 de Julho, mas foi informado que o pedido de reapreciação não chegara a Lisboa. Até ao fecho desta edição, ainda não obtivera resposta.
José Mora Ramos, investigador coordenador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, não se conforma com todo este procedimento. Os seus protesto incidem primeiramente sobre o próprio termo de responsabilidade, cuja minuta reza: "Eu, (...), abaixo-assinado, de nacionalidade portuguesa, portador do BI (...) , declaro para os devidos efeitos que me responsabilizo pela estadia e alimentação de (...) (parente, amigo ou outro ), de nacionalidade (...) , residente em (...) , portador do passaporte (...) , durante o período até 90 dias em que tenciona permanecer em Portugal, bem como pelo seu repatriamento".
Mora Ramos entende que os termos do documento são "vexatórios para o cidadão moçambicano e absurdos para o cidadão português que o assina", como foi o seu caso. E refere que já teve que subscrever termos de responsabilidade semelhantes para "viabilizar" as férias em Portugal de outros amigos moçambicanos, incluindo professores universitários, empresários e até um dirigente da Federação Moçambicana de Futebol.
Conforme disse, actualmente "muitos moçambicanos que desejam vir a Portugal preferem fazer a sua entrada por outro país do espaço Schengen, para evitar o vexame" de ter que pedir a alguém que subscreva tal documento. José Mora Ramos, que visita frequentemente Moçambique, considera que a exigência do termo de responsabilidade causa "imenso mal estar" naquele país. Na sua opinião, "o efeito do dito papelote e a prática de relação" com os utentes negros no balcão consular em Maputo "sobrepõem-se a todas as manifestações públicas de boas relações entre países".
Revoltado, exprimiu o seu descontentamento numa carta ao secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. "Não lhe reconheço, a si nem a ninguém dos seus serviços, o direito de recusar a entrada no meu país a uma amiga minha, a menos que para tal invoque razões de Estado e dessas razões me informe devidamente", escreveu José Mora Ramos àquele membro do governo. Aguarda resposta.
in Público
Por JOSÉ PINTO DE SÁ
O processo de concessão de vistos de entrada nos consulados-gerais de Portugal nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) há muito que suscita o descontentamento dos requerentes. Entre os documentos exigidos figura um termo de responsabilidade que já foi considerado "absurdo", "vexatório" e prejudicial ao bom relacionamento entre os povos.
Um cidadão dos PALOP que deseje deslocar-se a Portugal em visita turística deve apresentar, além do passaporte válido e da passagem aérea de ida e volta, um documento do seu local de trabalho comprovando que está empregado e que a autoridade patronal tem conhecimento que vai ausentar-se do país. Mas além destes procedimentos, não incomuns, tem ainda que anexar um termo de responsabilidade emitido por um cidadão português, acompanhado do atestado de residência deste, ambos com a assinatura reconhecida em notário.
Ainda assim, muitas pessoas queixam-se de que, depois de produzidos todos estes documentos, amiúde o visto é recusado sem motivo aparente. Só resta então apresentar um pedido de reapreciação do pedido de visto, com uma declaração garantindo que não pretende permanecer em Portugal e que tem familiares e emprego no seu país. Quaisquer explicações sobre uma eventual recusa de reapreciação são endossadas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa.
A correr para o consulado-geral de Portugal em Maputo, na avenida Mao Tsé Tung, tem andado Sónia Chamba, moçambicana, casada e mãe de filhos, com emprego estável e registo criminal limpo. Durante dois anos juntou dinheiro para concretizar o sonho de umas férias em Portugal, incluindo uma saltada aos Açores. No continente, ficaria alojada em casa de uma prima cujo marido, cidadão português, se prontificou a redigir o termo de responsabilidade.
A 15 de Junho Sónia Chamba apresentou no consulado-geral todos os documentos exigidos, mas viu o seu pedido de visto indeferido. Quando procurou explicações, a funcionária disse-lhe apenas que o pedido fora recusado porque "a vinda a Portugal não tinha em vista a visita a nenhum familiar directo".
Sónia Chamba solicitou logo de seguida a reapreciação do seu pedido e o consulado informou-a que o processo seguiu para Lisboa, via fax, no dia 28 de Junho. No sentido de acompanhar o processo, o subscritor do termo de responsabilidade, José Mora Ramos, contactou o sector de vistos do MNE, em Lisboa, no dia 1 de Julho, mas foi informado que o pedido de reapreciação não chegara a Lisboa. Até ao fecho desta edição, ainda não obtivera resposta.
José Mora Ramos, investigador coordenador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, não se conforma com todo este procedimento. Os seus protesto incidem primeiramente sobre o próprio termo de responsabilidade, cuja minuta reza: "Eu, (...), abaixo-assinado, de nacionalidade portuguesa, portador do BI (...) , declaro para os devidos efeitos que me responsabilizo pela estadia e alimentação de (...) (parente, amigo ou outro ), de nacionalidade (...) , residente em (...) , portador do passaporte (...) , durante o período até 90 dias em que tenciona permanecer em Portugal, bem como pelo seu repatriamento".
Mora Ramos entende que os termos do documento são "vexatórios para o cidadão moçambicano e absurdos para o cidadão português que o assina", como foi o seu caso. E refere que já teve que subscrever termos de responsabilidade semelhantes para "viabilizar" as férias em Portugal de outros amigos moçambicanos, incluindo professores universitários, empresários e até um dirigente da Federação Moçambicana de Futebol.
Conforme disse, actualmente "muitos moçambicanos que desejam vir a Portugal preferem fazer a sua entrada por outro país do espaço Schengen, para evitar o vexame" de ter que pedir a alguém que subscreva tal documento. José Mora Ramos, que visita frequentemente Moçambique, considera que a exigência do termo de responsabilidade causa "imenso mal estar" naquele país. Na sua opinião, "o efeito do dito papelote e a prática de relação" com os utentes negros no balcão consular em Maputo "sobrepõem-se a todas as manifestações públicas de boas relações entre países".
Revoltado, exprimiu o seu descontentamento numa carta ao secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. "Não lhe reconheço, a si nem a ninguém dos seus serviços, o direito de recusar a entrada no meu país a uma amiga minha, a menos que para tal invoque razões de Estado e dessas razões me informe devidamente", escreveu José Mora Ramos àquele membro do governo. Aguarda resposta.
in Público
domingo, julho 18, 2004
sexta-feira, julho 16, 2004
foda-se!
Luís Nobre Guedes é o novo ministro do Ambiente
que merda é esta, ó caralho?
(numa situação destas, o recurso a este tipo de expressões é, na minha opinião, perfeitamente justificável... isto antes que comecem para aí a dizer que eu ando desbragada. eu não sou desbragada. gosto mesmo é de dizer asneiras!)
que merda é esta, ó caralho?
(numa situação destas, o recurso a este tipo de expressões é, na minha opinião, perfeitamente justificável... isto antes que comecem para aí a dizer que eu ando desbragada. eu não sou desbragada. gosto mesmo é de dizer asneiras!)
casamento debaixo de chuva
juntamente com os amigos de alex e o segredos e mentiras, este é um dos meus filmes preferidos.
através dele consegui ver-me, pela primeira vez, noiva.
domingo, julho 11, 2004
ressaca
acho que continuo ressacada. de tudo: das quatro perguntas em duas horas e meia, dos apontamentos aflitos que li vezes sem conta; da tequilla do jantar, às vezes com sal, outras com limão, e finalmente sem nada; dos pulos ao som dos groove armada e dos taxi, da garrafa de cerveja que deixei cair no meio da pista; da boca seca, a saber a cartão e a vertigem dos movimentos repentinos, que o gurosan não curou; dos pães com presunto, queijo, fiambre, mortadela e manteiga, que completam a minha dieta de fim de semana, dos caracóis frios e moles de ontem à noite; até mesmo do dramatismo da voz da maria bethânia e dos episódios trágicos das minhas amigas.
terça-feira, junho 29, 2004
será que vai haver porrada?
BELÉM Opositores e apoiantes de Santana manifestam-se hoje
o mais ridículo de todo este processo são as pessoas que participam nestas manifestações. acreditarão eles que o presidente vai convocar eleições antecipadas só por causa dos seus cartazes e berros? que assim contribuem para a definição do futuro do país?
gostava era de saber quantos deles votaram nas últimas eleições...
o mais ridículo de todo este processo são as pessoas que participam nestas manifestações. acreditarão eles que o presidente vai convocar eleições antecipadas só por causa dos seus cartazes e berros? que assim contribuem para a definição do futuro do país?
gostava era de saber quantos deles votaram nas últimas eleições...